Ted Marengos fala do novo álbum ‘Timeless Beat’ e turnê nos EUA

Ted Marengos fala do novo álbum ‘Timeless Beat’ e turnê nos EUA

O Ted Marengos está nos Estados Unidos em uma longa turnê com duração de três meses. Os caras estão promovendo o recém-lançado álbum “Timeless Beat”, o terceiro da carreira. Serão mais de 30 shows durante o período, que começou em Los Angeles no final de junho.

Prestes a embarcar, conversamos com os irmãos Júlio Starace (vocais e guitarra), Luiz Pimentel (baixo) e Thomaz Ayres (bateria), os quais falaram sobre a excursão, a produção do novo trabalho, também o início de carreira e a decisão de cantar em inglês. Confira a seguir.

Ligado à Música: Olá, pessoal. Antes de tudo, vamos falar sobre as suas origens. Como foi o início da banda?

Júlio Starace: A gente começou tocando em casa, crianças que gostavam de rock e daí a gente não tinha pretensão de começar a banda. A gente só queria tocar por diversão mesmo em casa e aí o Thomaz começou a fazer aula com o Ivan Busic (Dr. Sin)

Ligado à Música: Começou bem. 

Thomaz Ayres: Eu tive outros professores antes, mas foi o Ivan que me passou a parte técnica, de entender realmente as paradas.

Júlio: E aí ele sugeriu que a gente gravasse um disco, mas a gente não tinha músicas. Foi então que descobrimos que dava pra escrever músicas. Entramos no estúdio e gravamos com o Ivan e o Andria [Busic].

Thomaz: Isso na época da nossa outra banda, a Ferrorama, em 2005.

Júlio: O Thomaz tinha 13 anos quando entrou no estúdio pela primeira vez. E depois o Ferrorama foi virando o Ted Marengos, por conta da evolução da música, do nosso jeito de enxergar, como a gente iria continuar tocando e a decisão de começar a compor em inglês, mesmo porque a gente escutou música em inglês e aquilo falava alto com a gente também.

A ideia de compor em inglês sempre foi vista pelas pessoas como uma coisa fácil demais ou ‘vocês não estão sendo brasileiros’. A gente começou a entender que não, o que na verdade era servir a música e o Ted Marengos surgiu por isso também. A gente queria tocar o rock n’ roll do jeito que ele foi criado. De 2011 pra cá, a banda já evoluiu bastante em termos de sonoridade e de conhecimento musical.

Ligado à Música: Eu notei, cara. Como te falei antes, conheço a banda há um tempo e comparando com os sons atuais deu um up bem legal.

Júlio: A gente está tentando sempre evoluir, amadurecer, e cada vez mais entender o nosso lugar, o nosso papel e acho que isso é um processo natural com qualquer banda que está aí na correria há um tempo. É crescer e evoluir, principalmente na música.

Ligado à Música: Vocês sentiram alguma barreira no mercado por cantarem em inglês? Além disso, vocês seguem uma tendência mais classic rock como influência.

Júlio: É porque a gente escuta mesmo Beatles, Stones, Hendrix no dia a dia. E isso é natural, vem pro som. Eu acho que o lance de barreira em cantar em inglês a gente já teve muito mais no começo. Hoje em dia acho que existe um respeito e um entendimento cada vez maior do público. Não só no rock, mas em vários estilos. As pessoas estão começando a entender que não é porque você é brasileiro que precisa cantar em português ou não é porque você é chinês que precisa cantar na língua local. O que importa é você ser sincero com os seus propósitos e entregar a melhor música que você pode, se é o que você quer. Então, as pessoas estão entendendo isso cada vez mais e, claro, sempre tem uma barreira da língua, não só das pessoas, mas nossa mesmo na hora de compor, mas isso é um processo que vem cada vez mais evoluindo pras pessoas.

E a gente foi ganhando confiança, é importante isso também. Porque sempre você começa assim: ‘será que a gente deveria fazer assim? Será que as pessoas vão achar isso ou aquilo?’. Só que daí você tem que voltar pro negócio básico, que a música é uma das únicas coisas que dão a liberdade de você fazer o que quiser, o que bem entender. É arte.

Então é uma coisa que a gente se dedicou e vale a pena gastar o seu tempo produzindo, criando e tentando cada vez mais buscar algo que não é o que aconteceu ontem. (risos)

Ligado à Música: Queria que vocês falassem um pouco sobre o novo disco, as novas composições. O que a galera pode esperar do trabalho. Inclusive o novo single, ‘All in the Same Beat’, que está tocando na rádio, é animal.

Júlio: É, foi a primeira música que a gente conseguiu colocar na rádio pra tocar de verdade, pra trabalhar de verdade. O disco inteiro são os três primeiros singles que lançamos, no total de seis músicas. Todas elas têm um universo próprio, mas ao mesmo tempo, elas se conversam. Então, foi uma seleção de músicas que a gente fez agora pra gravar nesse disco que foi meio acidental, porque era pra ser uma demo, depois virou uma ideia de um single, um EP, e depois a gente deu o nome de álbum pelo tempo, pelo trabalho, pela elaboração dos arranjos, das participações que tiveram também até o final. Então, chamamos de álbum com seis músicas mesmo até pra dar mais respeito pro trabalho. Mas o que muda do ‘Lifts’, que foi o segundo disco pra esse terceiro do Ted Marengos, é que a banda não é mais daquela tradicional duas guitarras, baixo e bateria, como a gente se apresenta no ao vivo…

Ligado à Música: Tem músicos de apoio então.

Júlio: É, tem músicos de apoio, tem arranjos de cordas, tem quarteto de cordas, tem metais, corais, músicas mais acústicas também, e é bem orgânica também. Tudo ali foi gravado real, não tem sample, não tem gravação de sintetizador.

Thomaz: Tem talvez no ‘Savage’, mas é analógico. A gente tenta fazer sempre coisas reais. Você consegue sentir a diferença.

Ligado à Música: Vocês ainda gravam no rolo?

Thomaz: Isso a gente fez no segundo disco.

Júlio: O processo de gravação foi uma coisa que também a gente mudou. Pro outro disco a gente queria fazer em pouco tempo. Ficamos menos de duas semanas no estúdio. A gente ia gravar todo mundo junto, um dois, três, quatro gravando, no rolo.

Ligado à Música: A moda antiga…

Júlio: Essa era a ideia. Agora nesse novo a gente pensou: ‘vamos utilizar os recursos que temos hoje em dia, não vamos falar não pra tecnologia’. Mas ao mesmo tempo, tudo que foi gravado também era orgânico. As pessoas tocando de verdade, não teve nada de computador. Só o modo de gravar teve uns plug-ins, pro tools, essas coisas.

Thomaz: São ferramentas, não são coisas que você se apoia 100%. É a maneira de gravar que tem a qualidade absurda também. Então, importa só o que você escolhe pro tipo de som quer fazer, também tem isso. O tipo de som, as camadas que a gente queria ter em termos de arranjo pra essas músicas, era a melhor forma de trazer o melhor conteúdo possível assim. A gente tem, por exemplo, pedal steel, cordas, tudo é gravado depois, mas a banda, baixo, batera, guitarra e voz, é tudo gravado ao vivo. Porque isso faz muita diferença no estúdio.

Júlio: A energia da banda no estúdio.

Thomaz: Você se olhar, você tocando junto é muito diferente de você estar tocando com seu click, gravar batera e tal.

Ligado à Música: É muito mais real mesmo. Acho que hoje em dia ninguém faz mais isso.

Júlio: Nos dois discos a gente se preparou bastante. Fizemos uma pré-produção de ensaios pra entrar no estúdio sabendo o que a gente iria fazer. E muitas coisas mudam no meio do caminho também, no processo de gravação, mas foi por aí.

Thomaz: E uma coisa que a gente acabou nem falando em nenhum outro lugar ainda. Tem uma música desse disco que é uma surpresa que a gente preparou pra esse lançamento. É a única que não traz essa essência dos arranjos com participações. É a única música que a gente preparou que é o quarteto que a gente sempre se apresenta. Enfim, ouça o disco. (risos)

Ligado à Música: E quais são as participações do disco? Vi que tem o Johnny Franco.

Júlio: É, tem o Johnny em ‘All in the Same Beat’, que gravou lá em Portland onde ele mora agora. Gravou a parte dele e mandou pra gente. Também teve a Graça Cunha, que já cantou no ‘Altas Horas’, tem o Tchello Palma, Paulinho Viveiro nos trompetes…

Thomaz: Aí tem o quarteto de cordas da Osesp, tem o Adair Torres no pedal steel, que é uma referência no Brasil e um privilégio poder fazer, Pedro Montagnana, que produziu o disco todo e também gravou todas as teclas, pianos e teclados, a parceria com o maestro Beto Iannicelli, que compôs ‘Eternally Fab’ com o Júlio.

Júlio: Tem duas músicas em parceria com o Beto que é a ‘Eternally Fab’ e a ‘A Message’, que é uma que ele tocou dois violões, um de seis cordas e outro de doze, e escrevi a letra e canto também, não toco nada. Então, é só violão e voz.

Ligado à Música: Ele toca demais então.

Júlio: Ele toca mais do que Beatles, mas a paixão da vida dele é Beatles. Então, a vida inteira ele não podia só fazer Beatles, aí uma hora ele jogou tudo pra cima e falou: ‘eu não vou mais dar aula em faculdade, eu não vou mais reger orquestra, não vou mais tocar na noite, eu vou ficar em uma sala ensinando Beatles pra todo mundo’.

Thomaz: E é legal, porque depois de 15 anos a gente conseguiu colocar ele no palco com o lançamento dessa música e ele foi pro estúdio, ajudou a produzir, fazer os arranjos. Então, pra gente também foi um privilégio ter ele envolvido nisso, depois de já ter trabalhado com tanta gente grande durante a carreira dele, regido grandes orquestras.

Júlio: É a primeira vez que a gente tem tantas participações. A gente sempre teve em nossos outros discos só as gravações das teclas com o Pedro Montagnana e de resto era só nós. E agora não, é o primeiro disco que tem muita gente envolvida, e é muito legal, é uma experiência diferente pra gente também.

 

Ligado à Música: De alguma forma, vocês vão levar essa galera pro palco nos shows?

Thomaz: A intenção é em algum momento poder fazer isso, mas a gente prefere ainda não falar.

Júlio: Porque é muita gente pra colocar no palco.

Ligado à Música: De repente colocar uma base gravada como uma forma mais pratica, né?

Thomaz: A gente tem feito os arranjos pro ao vivo de uma maneira que funciona também.

Júlio: Isso é uma outra coisa também. A gente tem que se virar agora pra fazer ao vivo pra ficar legal.

Thomaz: É legal também porque a gente traz uma experiência diferente do disco no show, entendeu? Então, a pessoa ouve o disco, conhece as músicas, mas ela chega no show e vai ouvir a mesma música com uma experiência diferente, e isso é muito interessante. Eu particularmente, vou em um show e vejo uma versão de uma música não exatamente fiel, mas que respeita ela e traz uma coisa que é nova, é legal pra caramba também.

Ligado à Música: Vocês já tocaram fora em outro momento, na Europa, Inglaterra…

Júlio: A gente foi pra Londres e Estados Unidos já, mas nunca tocamos como vamos agora.

Thomaz: Nos Estados Unidos, a gente foi mas ficamos na cidade e batemos em porta e porta. Fizemos muitos shows também, mas parados na mesma cidade. Dessa vez, a gente vai rodar bem.

Ligado à Música: Onde vocês fizeram da outra vez?

Thomaz: Londres, Nova York, Nashville e Los Angeles. A gente ficou um mês em cada lugar.

Ligado à Música: E como está o preparo dos shows? Porque pelo que eu estava olhando na agenda, tem show todos os dias.

Thomaz: Praticamente.

Ligado à Música: Vocês estão correndo no Ibirapuera? (risos)

Thomaz: Isso é uma coisa que a gente vai ter que se preocupar mesmo. A saúde mental, física, pra poder entregar o melhor show possível porque é uma grande oportunidade que a gente está tendo. É incrível.

Ligado à Música: Serão 33 shows?

Thomaz: Mais de 30.

Júlio: Ainda não fecharam todos, talvez venha mais coisas.

Ligado à Música: Pois é, aproveitar que vai estar por lá.

Thomaz: A gente anunciou a tour faz duas semanas e já fechamos mais três shows. Então, tem coisa que ainda está vindo, agora estamos vendo o que conseguimos encaixar dentro da agenda que é muito apertada e as distâncias são longas.

Júlio: A gente está tentando mapear também todos os lugares que a gente vai passar pra não ir só pra tocar, mas também fazer algo interessante pra entregar ao público.

Ligado à Música: Inclusive, vai ter o blog que vocês vão falar da turnê.

Júlio: A gente está planejando fazer um conteúdo diário, também vai ter um documentário rolando, sendo filmado.

Ligado à Música: Vai uma equipe também junto?

Júlio: Vai em seis caras. O Paulinho Costa, guitarrista que entrou agora também. Entrou faz uma semana. A gente está em estúdio ensaiando pra ir tocar e o cara quase caiu da cadeira quando a gente fez o convite pra ele. (risos)

Thomaz: Vai ser legal também porque agora a gente vai ter a oportunidade de apresentar o nosso disco novo, com show novo, que é uma ânsia sempre pra gente estar podendo renovar o que tem pra fazer e apresentar pro público coisas novas. E vai ser um desafio interessante.

Ligado à Música: Será na mesma época do lançamento também.

Thomaz: É. A gente lança o disco no primeiro show da tour. Então, vai ser o pontapé inicial que entra nessa fase nova.

Ligado à Música: Quais são as expectativas dos shows?

Thomaz: Pra ser sincero não estamos tendo tempo de pensar na expectativa. A gente está mais pensando em estar preparado com tudo encaminhado pra fazer um bom trabalho.

Ligado à Música: É até melhor, porque isso as vezes atrapalha.

Júlio: Sinceramente, acho que a expectativa pro show mesmo vai acabar chegando na hora que a gente pisar lá.

Luiz Pimentel: A gente tem que se preparar aqui, organizar tudo pra gente chegar lá e só aproveitar a turnê mesmo e tirar o melhor possível disso.

Júlio: Eu acho que uma das coisas boas pra gente combater o cansaço mesmo é se divertir em todos os shows, em um dia novo, um lugar novo.

Thomaz: Isso também é legal porque com outras turnês, a gente chegava a ficar 30 dias em uma mesma cidade e tocando quase todos os dias. É legal pra caramba também, longe de estar reclamando, mas é outra experiência porque só o fato de você estar todo dia em um lugar novo, talvez ou será algo que vai matar a gente de cansaço ou realmente será uma coisa que vai dar aquela revigorada pro dia seguinte.

Ligado à Música: A gente conversa depois da turnê pra saber como foi. (risos)

Thomaz: Com certeza.

Ligado à Música: Vocês vão viajar com algum trailer durante a turnê?

Júlio: A gente alugou uma van, uma Fordzona, pra dormir lá dentro mesmo. A gente tá pensando em pegar uma barraca também pra encostar em qualquer lugar com uma churrasqueira. (risos)

Thomaz: Inclusive, se você estiver nos Estados Unidos e quiser ajudar a gente com carnes…

Ligado à Música: Iria com o maior prazer. (risos)

Pra finalizar, ao chegar no Brasil, como está a agenda?

Júlio: A gente tem um show marcado em Pinheiro, na Heavy House, dia 21 de agosto.

Thomaz: Será também a primeira apresentação do disco novo pro público aqui. Então, acho que vai ser uma noite interessante. A gente vai anunciar as novas datas no Brasil durante o período que a gente estiver por lá porque tem coisa já engatilhando.

Ligado à Música: Porque também vai ter gente aqui trabalhando, né? (risos)

Thomaz: O Brasil não vai parar. (risos)