Soul Asylum: Dave Pirner fala sobre o Brasil e expectativa de tocar com L7 em SP

Soul Asylum: Dave Pirner fala sobre o Brasil e expectativa de tocar com L7 em SP

Soul Asylum L7 Brasil

Foto: Divulgação/Katarzyna Cepek Photography

A banda norte-americana Soul Asylum se prepara para desembarcar no Brasil, neste domingo (02), onde subirá ao palco do Tropical Butantã, em São Paulo. O grupo liderado por Dave Pirner tocará ao lado das garotas do L7. Os ingressos para o show continuam à venda neste link. O evento é uma produção da Powerline.

O vocalista conversou conosco com exclusividade por telefone sobre a noite que teremos dedicada aos anos 1990. “Vamos tentar escolher o melhor para vocês”, declarou Pirner.

O artista também relembrou da turnê pelo Brasil com o INXS, falou sobre a MTV, próximo álbum, e muito mais. Confira abaixo o bate-papo.

O Soul Asylum foi formado em 1983, em Minneapolis, Minnesota, mas explodiu na década seguinte com hits como “Somebody to Shove”, “Runaway Train” e “Misery”.

Ligado à Música: Você esteve pela primeira vez no Brasil em 1994, tocando com o INXS. O que você pode nos dizer sobre esses dias?

Dave Pirner: Foi bem divertido sair e curtir com Mike (Michael Hutchence) e os outros caras. Nós não nos conhecíamos antes, mas ainda sim ficamos próximos e curtimos bastante o Rio de Janeiro. Os shows foram incríveis, eu não sabia que o INXS era tão grande e conhecido na América do Sul e descobri isso de uma forma incrível com a plateia. Mas então, nós curtimos como loucos. Foi bem divertido (risos).

Ligado à Música: E qual foi a reação do público? Digo, Soul Asylum e INXS são bandas de estilos bem diferentes.

Dave Pirner: Foi bem legal. Eles eram loucos por INXS, mas foram bem receptivos e curtiram bastante o nosso show.

Ligado à Música: Nesse domingo, vocês tocarão com as garotas do L7 e elas também fizeram sucesso na década de 1990. Vocês já se encontraram?

Dave Pirner: Sim, nós fizemos alguns shows juntos uns anos atrás, se não me engano em alguns rallys e eventos pró-escolhas, algo do tipo. Eu sempre fui um grande fã delas e estou ansioso pra vê-las novamente. Já tem algum tempo que não as encontro e com certeza vai ser divertido.

Ligado à Música: Como você classificaria a importância da MTV na carreira do Soul Asylum?

Dave Pirner: Bom, acredito que tenha sido uma era em que existia muita pressão e obrigação de gastar uma toneladas de dinheiro em videoclipes. Claro, hoje isso não existe mais. Confesso que isso não era uma das melhores experiências, você basicamente era forçado a ser um ator e fazer o que queriam. Mas óbvio, funcionava de uma maneira efetiva, no sentido em que você colocava a sua banda em exposição para o mundo, pra pessoas que provavelmente não teriam condições de ver seus shows, por morarem em locais muito distantes ou algo do tipo. Uma parte de mim adorava o processo de filmagem, de tentar criar um visual para acompanhar a sua música e tal, também acho curioso como o vídeo muda a percepção com que a pessoa costumava entender a letra da canção por exemplo. Tudo isso foi um mix de emoções. Tinha os contras e os prós. Acho que foi bom enquanto durou, mas não vou te dizer que sinto falta disso, entende?

Ligado à Música: Ainda no ramo da indústria fonográfica, qual a sua opinião sobre os serviços de streaming e afins? Digo, antigamente você tinha que vender discos para se manter, hoje em dia isso não existe mais.

Dave Pirner: É meio louco. Eu entendo que as pessoas não precisam mais se esforçar para encontrar músicas novas e com isso muitas delas usam a música como um ‘ruído de fundo’ ou algo do tipo, música virou algo muito conveniente e simples. A experiência de curtir ir a uma loja de discos era algo precioso pra mim. Só pelo fato do vinil estar voltando, entre aspas, eu já estou me divertindo indo atrás de coisas novas. Mas claro, os CDs já eram, quem ainda liga pra eles? (risos).

Ligado à Música: Antigamente, as pessoas costumavam ir atrás de coisas novas, hoje em dia o Spotify e esses serviços simplesmente pegam os gostos pessoais e trazem algo na mesma linha.

Dave Pirner: Sim, eu costumo ter bastante expectativas e até mesmo usar certo esforço para achar coisas novas pra ouvir, decidir onde e quando vou escutar, etc. Mas é isso, eu ainda compro discos, mesmo sendo incríveis trinta dólares cada (risos).

Ligado à Música: Falando um pouco de seu último álbum ‘Change of Fortune’. Na época vocês fizeram uma campanha com a PledgeMusic para levantar fundos para o disco, como isso funcionou?

Dave Pirner: Isso. Pra mim foi surpreendentemente divertido. Como eu disse, eu gosto de gravar vídeos, arte e coisas do tipo, então isso foi uma oportunidade bacana de poder pintar e fazer coisas para levantar fundos para gravar o disco. Mas é engraçado, você se sente um porre também tendo que pedir doações para as pessoas e tal, me entende? Mas tem um ângulo interessante em tudo isso.

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Foto: Reprodução

Ligado à Música: Para um próximo trabalho, você usaria algum método de levantar fundos novamente?

Dave Pirner: Provavelmente sim. Até onde eu sei a PledgeMusic está funcionando da mesma maneira ainda. Faz algum tempo que não ouço algum caso grande de sucesso com algum artista, mas funciona. ‘Crowdfunding’ é realmente efetivo. Teve um caso recente nos Estados Unidos em que um casal achou um morador de rua e levantaram uma quantia enorme de grana e no fim era um esquema combinado entre eles, então as vezes pode ser questionável. Esquemas de bandas que nem existem pedindo dinheiro e afins…

Ligado à Música: Sim, esses dias li sobre uma banda que não existia mas comprava visualizações no Youtube e conseguiram marcar algumas datas em Londres (risos). Ainda sobre a PledgeMusic, na época vocês também vendiam um ‘show íntimo’ para os fãs e iam tocar em suas casas. Como isso rolou?

Dave Pirner: Foi muito legal. As pessoas que compravam o nosso show eram realmente fãs de longa data. Não imaginei que isso fosse rolar bem, mas aconteceu. Nós tocávamos em suas salas e era algo louco. Para os fãs também, pois sabiam que o dinheiro dos shows vinham diretamente para nós e nos divertíamos tocando lá.

Ligado à Música: Então não era algo tipo Gene Simmons (KISS) cobrando 10 milhões pra tocar em seu quarto e sem direcionar um sorriso a você (risos).

Dave Pirner: Pois é, nós tentamos ao máximo ficar longe desse tipo de coisa. Hoje em dia as bandas cobram até para tirar simples fotos com os fãs e isso está ficando muito insano.

Ligado à Música: Agora falando um pouco sobre como você compõe. Você está na estrada por mais de 35 anos, a forma com que você costumava buscar inspiração para escrever naquela época, é de alguma maneira diferente da forma como funciona hoje?

Dave Pirner: Bom, a temática do disco, das faixas, é algo que aparece de uma hora pra outra. No meu primeiro disco eu escrevi uma faixa sobre religião, foi algo que apareceu na minha cabeça. Na hora de escrever a seguinte, cogitei dar sequência mas pensei que não precisava, já tinha feito sobre aquilo. Sei lá, eu gosto de dar uma procurada em inspirações, buscar o que está social ou emotivamente conectado em mim e me alienando naquele momento. Sei lá, é complicado pra mim chegar e escrever sobre a administração do [Donald] Trump ou algo do tipo. Isso é muito óbvio e todo mundo quer fazer. Mas enfim, estou escrevendo sobre alguns temas interessantes para o próximo álbum, sobre coisas que me aconteceram repetitivamente nos últimos anos e em minha vida. Vai ser bem interessante.

Ligado à Música: Bom, então vocês já estão preparados para um próximo álbum?

Dave Pirner: Sim, já estamos com 13 ou 14 faixas gravadas e já prontas para serem finalizadas e mixadas. Devemos tirar uma faixa ou outra e adicionar algo, mas estamos bem próximos de acabá-lo. Provavelmente deve rolar quando voltarmos para Minnessotta.

Ligado à Música: E elas soam como o último disco?

Dave Pirner: Um pouco diferente talvez. Eu tento compor as faixas como pedaços de quebra cabeça que me interessam no momento, tentando encaixá-los e fazer o melhor para o momento e não repetir o que já fiz.

Ligado à Música: Para finalizar, algumas perguntas rápidas. Como você enxerga o Brasil?

Dave Pirner: Bom, estive por aí duas vezes. Passei uma semana aí quando toquei em um festival com algumas bandas locais e me diverti bastante. A música, dança, comida, festas… eu realmente me diverti. É um país muito bonito e mal posso esperar para me divertir com os meninos no domingo.

Ligado à Música: Falando sobre domingo, o que podemos esperar para o show? Lembro de ler uma vez que você havia cansado de tocar ‘Runaway Train’, mas após um ou dois anos voltou atrás com a decisão. O que aconteceu?

Dave Pirner: Sim, realmente. O que aconteceu foi que eu comecei a ouvir cada vez mais histórias do tipo: ‘Poxa, viajei cinco horas para ouvir vocês tocarem ‘Runaway Train’ e não rolou o som’. E realmente não custava nada, sabe? São três minutos e cinquenta segundos da minha vida e eu até que gosto de tocá-la, então… Domingo vai ser um repertório reduzido, pois vamos tocar com as meninas do L7, mas vamos tentar escolher o melhor para vocês.

Ligado à Música: Se você pudesse escolher um artista para trabalhar com você, qual seria?

Dave Pirner: Eita. Não sei. Provavelmente algum morto (risos). Mas sei lá, Bob Dylan.

Ligado à Música: Na verdade, minha próxima pergunta seria sobre um artista que já se foi (risos).

Dave Pirner: Droga (risos). Não sei, provavelmente Jimi Hendrix.

Ligado à Música: Poxa, achei que responderia David Bowie.

Dave Pirner: Também, claro. Já toquei bastante David Bowie na minha carreira. Na verdade o nosso baterista excursionou com ele por alguns anos.