Sepultura fala sobre conceito do novo álbum ‘Quadra’

Sepultura fala sobre conceito do novo álbum ‘Quadra’

Foto: Leandro Almeida

O Sepultura lançou seu novo álbum de estúdio, intitulado Quadra. O 15° trabalho do grupo foi recebido da forma positiva pelos fãs e crítica especializada. Quadra é um álbum conceitual com 12 músicas, formado em quatro partes como um LP duplo: o Lado A traz o tradicional Sepultura; o Lado B tem uma pegada com groove; Lado C instrumental; e Lado D mais melódico.

Durante coletiva de imprensa, o guitarrista Andreas Kisser falou com detalhes sobre o novo álbum: “Então, o conceito foi muito importante e comecei, através dos números, a procurar numerologia, algoritmos, que é uma coisa muito em voga hoje em dia: o que a gente vê, ouve, o que a gente acha que escolhe, o tipo de propaganda a que a gente assiste através do que a gente vai surfando, enfim… no final das contas a gente acaba sendo controlado por isso, né? Então aí que foi o ponto de partida. Nessa pesquisa, achei um livro chamado Quadrivium, que fala sobre as chamadas Quatro Artes Liberais: Música, Cosmologia, Geometria e Matemática. Achei super interessante de misturar, no próprio livro, no mesmo nível, geometria com música e cosmologia. Para a gente, artista, a gente sempre viu muita conexão entre tudo isso. Tanto é que influência vem de tudo quanto é lugar. E ali nesse livro tinha a definição de alguns números, o significado de alguns números, de acordo com o Quadrivium. E o número quatro significa o momento de manifestação, de fundamento, onde as coisas acontecem, saem da teoria e acontecem de verdade, que, na verdade, no meu ponto de vista, é outra definição do presente, do agora, do Kairos, que é uma coisa tão importante para a gente, que mantém a banda viva até hoje, que é viver no presente, no agora. Então dali veio essa coisa do Quadra, de usar essa coisa da numerologia, da geometria e fazer uma analogia com o que a gente vive, com o que a gente é.

E continuou: “Porque ‘quadra’ é uma palavra em português, que não tem em inglês, e o que é a ‘quadra’? É um espaço delimitado em que você tem um conjunto de regras onde o jogo acontece. É nossa vida, né? O Brasil é uma quadra. A Arábia Saudita é uma quadra. Os Estados Unidos estão cheios de estados dentro que são diferentes quadras, com diferentes conceitos. Enfim, a gente fala disso e a pergunta que o Quadra traz é: ‘Por que você acredita nas coisas que você acredita? Por que você defende essas ideias?’. Mais importante do que acreditar é defender uma ideia, que você não sabe nem de onde veio. Porque você veio de uma escola, ou foi para Harvard, independentemente de onde você foi, por que você confia nisso? A Volkswagen vendeu um carro, poucos anos atrás, que foi uma grande farsa, o ‘carro verde’, o ‘carro ecológico’, que, na verdade, estava fazendo completamente o oposto. E muita gente acredita porque uma simples propaganda te dá uma ideia de que aquilo é confiável, vamos dizer assim. Então a ideia do Quadra é questionar seu conhecimento, né? Porque a sua escola ou sua avó, por exemplo, te falou uma estória sobre um fato histórico. Por que você acredita nela? Tudo bem, ela é sua avó e você tem que confiar nela, mas pode ser uma mentira, uma inverdade, um ponto de vista errôneo daquilo que aconteceu, entendeu? E você tem que dar espaço para isso. Então o Quadra traz isso: por que a gente ataca essas diferenças ao invés de aprender com elas, né?

Foto: Chibbas

O editor-chefe do Ligado à Música, Marcos Chapeleta, esteve presente no evento de lançamento e aproveitou para perguntar sobre as influencias do disco: “Foi uma enxurrada de informação, muita coisa que eu achei bacana. Achei o disco inovador e até ousado também. Ouvi e até anotei umas coisas aqui: tem violão clássico; melodia, a forma do Derrick cantar diferente; rock clássico; death; thrash; tem até baião também, né? Queria saber, de repente, todos esses anos de banda e vocês se reinventando, o que vocês ouviram para pegar essas influências?”

Andreas Kisser: “Putz, cara, a gente ouviu a gente mesmo, mano, sabe? Como o Eloy estava falando, a gente conseguiu trazer um pouco dos elementos de toda a história do Sepultura para esse disco, sem querer copiar a gente mesmo. Ele estava falando dos loops que ele mandava de batera, chegavam umas coisas que eu falava: ‘Peraí, vamos sentar. Onde está o ‘um’? Onde está o ‘um’?”. A partir do momento que esse desafio, esse negócio, começava, foi muito foda porque comecei com ele a desafiar um ao outro.

Eloy Casagrande: “Mas nunca rolou, do meu lado”.

Andreas: “Ah, mas para mim rolou e fiquei muito feliz porque teve uma parte que ele não conseguiu tocar de primeira (risos). Ele teve que ir para casa estudar a parte, aí falei: ‘Puta merda, mano! Consegui, velho!’.

Paulo Xisto: “Não vou nem entrar no mérito da questão!”.

Andreas: “E o Paulo estava com o olho desse tamanho falando: ‘Caralho! Como que eu vou tocar isso?’. Mas, enfim, esse é o lance e é um desafio saudável, não é uma coisa de competição”.

Eloy: “É uma coisa, acho que de aumentar a bola de neve. Começa com uma bola e ela vai ficando maior”.

Andreas: “Totalmente, velho! ‘The Pentagram’, por exemplo, foi: ‘Porra, vamos fazer uma música em cinco por quatro’. Ele tinha mandado um loop em cinco por quatro e a partir dali virou uma música inteira em cinco por quatro, com várias variações que vão se repetindo e, enfim… esse tipo de coisa acontece naturalmente e muito com a ajuda do conceito também, dessa divisão por quatro e ‘isso é um pouquinho mais thrash, essa parte não cabe aqui, mas cabe ali’, entendeu? Isso ajuda muito a gente a escolher as melhores ideias ou riffs para colocar num lugar certo.

Eloy: “Acho que tenho uma busca particular, também acho que para os caras, mas quando estou compondo, meio que é um esquecimento de mim mesmo. Quero não soar como já soei antes porque acho que isso traz um lance novo. Se você se baseia numa identidade fixa, é difícil você expandir daquilo ali. Por mais que, é claro, algumas coisas venham naturalmente, empiricamente, da minha forma de tocar, mas sempre tento sair do que realmente sou, pensar em alguma outra coisa… não ‘pensar’ porque pensar já muda. É sentir, criar algo diferente”.

Paulo: “E sobra para o baixista…”.

Andreas: “O baixista só faz ‘tum-tum-tum-tum’!”.

Paulo: Ah, é! Filho da puta… (risos)

O vocalista Derrick Green não participou da coletiva de imprensa de Quadra por estar em Los Angeles.