Projeto Trator fala sobre a primeira turnê sul-americana

projeto-trator-turne
Foto: Divulgação

O duo Projeto Trator já está no Uruguai para o primeiro show da turnê sul-americana, que acontece neste sábado, 05, em Canelones. A excursão conta com 18 shows agendados e também passará pela Argentina e Chile. O Ligado à Música conversou com o vocalista e guitarrista Paulo Ueno sobre a expectativa da intensa turnê. O músico também falou sobre o início de carreira, influências, circuito de bandas no Brasil e a forma independente de fazer acontecer. Confira a seguir.

LIGADO À MÚSICA: Como surgiu o Projeto Trator?

PAULO UENO: Começou na metade de 2006. Eu conheci o Thiago Emanuel da Silva Padilha em um grupo de bandas do Orkut e coincidentemente morávamos perto, pronto, aí nasceu embrião do grupo.

LIGADO À MÚSICA: A formação da banda, como uma dupla, foi proposital?

PAULO UENO: Até o terceiro ensaio nós pensamos em quase tudo: baixista, outro guitarrista, vocalista, ista, ista… Mas a coisa fluiu, entrosamento, dinâmica, a construção dos temas. Achamos melhor continuar como dupla pela praticidade mesmo e cá estamos.

projeto-trator-argentinaLIGADO À MÚSICA: Quais são suas influências?

PAULO UENO: Sobre as influências, outra coincidência: punk rock, crust, grind, hardcore e metal sujo e feio, e claro, muito rock psicodélico, para não perder essa onda do verão (risos). Parece que todo psicodélico hoje é legal (risos). Em tese, é isso que ouvimos o tempo todo. Na prática, temos muita influência do Melvins, Black Flag, obviamente, Black Sabbath, Neurosis, bandas brasileiras amigas como Agua Pesada, o finado Asterdom, o Vinscebuz, Cólera, La Carne, bandas da etiqueta SST e Dischord, e hardcore europeu. Acho que é isso.

LIGADO À MÚSICA: A banda está embarcando na primeira turnê sul-americana. Como está a expectativa?

PAULO UENO: A expectativa é boa. Ano passado a gente fez 10 shows na Argentina. Fomos até a Patagônia tocando. Esse ano serão 18 shows, contendo Argentina, Uruguai e Chile. Pode ser que tenha alguma baixa ou que façamos algumas datas a mais. Será intenso! Estamos lançando o álbum ‘Despacho’ e dois splits que gravamos ano passado na Argentina. O propósito dessa gig sul-americana são esses lançamentos.

LIGADO À MÚSICA: Mesmo sendo independente, o grupo tem viajado também pelo Brasil. Como analisa o circuito de rock pelo país?

PAULO UENO: De fato, já tocamos em quase todas as regiões do Brasil, exceto o Norte. Eu vejo um paradoxo aí. A banda cair na estrada e tocar não é fácil, mas é aí que a banda nasce e vira banda, saca? Pausa para a reflexão: quantas bandas (de rock) existem nesse país habitado por 200 milhões de pessoas? E quais delas tem condições de cair na estrada? Outra observação: de alguns anos pra cá, festivais se consolidam, o que é sensacional, e novos festivais surgem, o que também é ótimo. Mas você vai observar outra coisa em comum entre esses eventos: as mesmas 10 bandas/artistas. Curioso, né? Aí o leitor vai pensar: ‘que recalque, esses artistas são ótimos e merecem espaço’. Será? Eu acho interessante observar esse tipo de coisa. Mas, no geral, tocar e fazer a coisa acontecer hoje é um pouco mais fácil do que há 20 anos, na época da caixa postal, fita cassete. O lance é não esperar e fazer acontecer.

projeto-trator-zumbie
Zombie Walk 2013 (Foto: Tiago Maciel)

LIGADO À MÚSICA: A banda realmente adotou o conceito do faça acontecer. Digo isso pelas correrias de shows, clipes, discos, tudo feito por vocês…

PAULO UENO: Escola punk sem frescura é isso, né? (risos). É, o lance que a gente mais gosta de fazer é tocar, basicamente isso. E se a gente não fizer o corre, quem vai fazer? Então, fazemos quase tudo. Nessa questão de agenda/shows, somos nós, essa questão visual/plástica é o Padilha, os videoclipes e até áudios, sou seu que acabo montando e mixando, mas contamos muito com a ajuda de amigos. Agora se você tem uma assessoria, agência ou é booker de bandas e se interessar, podemos conversar (risos). Fazer tudo, ter todo o controle da banda e do produto é bom, mas é cansativo (risos). É sério isso q foi falado à cima!

LIGADO À MÚSICA: Falando em clipe, como foi a produção do último lançado, da faixa “Na Rua das 7 Facadas”?

PAULO UENO: Sobre a produção do clipe ‘Na Rua das 7 Facadas’: foi o dia mais longo da minha vida esse ano. Foi um dia intenso. A locação foi a Casa Raiz Libertária, uma antiga ocupação no Jd. Jaqueline, próximo ao Km 15 da Raposo Tavares, em São Paulo. Um lugar muito legal que tem agregado os artistas da região: músicos, rappers, grafiteiros. Uma casa com propósito de levar cultura, o que é ótimo. Vou resumir: chegamos às 14h para preparar tudo e parte dos equipamentos, subitamente, foram roubados assim que entramos na Casa para analisar o ambiente, foi coisa de cinco minutos. Conseguimos pegar um dos jovens com câmeras e mais da metade dos equipamentos em mãos. Corremos para a favela, eu e mais dois amigos da ocupação – um deles é morador da comunidade – e foi a saga infinita. O parceiro do jovem fugia somente com a minha guitarra e um tripé profissional, desses caríssimos, só não sei como ele aguentou o peso. Passamos em várias biqueiras e obviamente que eles não querem dor de cabeça e trabalho, o dono de uma das biqueiras nos disse q eu teria os meus ‘instrumentos’ em duas horas e foi o que aconteceu. Mas até pegar a guitarra foi outra saga que levaria mais 20 paginas para narrar, foi muita emoção. Voltando ao clipe. Nós voltamos para a Casa Raiz Libertaria, na pegada, o Tiagão Visceral [amigo] e o Padilha estavam lá e captamos as imagens em duas horas, driblando as goteiras da chuva. A direção de fotografia e também produção é assinada pelo meu grande irmão de vida mesmo, o Tiago ‘Visceral’ Maciel. O conheço desde a adolescência, ele é ex-guitarrista do Calibre 12 e atual Chemical. O conceito, edição e finalização é meu. Mas todo mundo trabalhou, o Padilha, inclusive, ajudou a pegar a guitarra e o tripé do outro lado da favela. Ah, mas ele ajudou a compor o cenário com o pessoal da casa, foi uma força tarefa mesmo. E depois captamos uns inserts na rua. Era para ser um carnaval lisérgico e satânico, tentamos nos aproximar da ideia. Gostei do resultado. Que dia!

LIGADO À MÚSICA: Loucura mesmo. E quais os planos depois da turnê sul-americana?

PAULO UENO: Se continuarmos vivos, tocar e tocar (risos). Estamos fechando a agenda até janeiro. Assim que chegarmos no Brasil, em outubro, tocaremos novamente em Curitiba, acho que dia 10, esta para confirmar. Dia 17, no Núcleo Porta Preta, do nosso grande brother, Loukas, também dia 24 no Hotel Bar. Gravaremos algumas canções no projeto Converse Rubber Tracks e estamos esperando a confirmação de alguns festivais.

projeto-trator-turne-sul-americana