Motörhead – Bad Magic (UDR Music)

Nota 9,5

motorhead-bad-magicO que esperar de um lançamento do Motörhead? A resposta parece bem óbvia, não? O rock n’ roll de mais pura qualidade que a banda sempre apresentou. Assim como o AC/DC, o trio sempre seguiu a mesma fórmula de sucesso, o mesmo arroz e feijão de sempre que todo mundo ama. Não faria o menor sentido mudar o que deu certo por 40 anos (e coloca certo nisso), a essa altura do campeonato.

Apesar de estar extremamente alegre de ter finalmente colocado as mãos no álbum, é com um pouco de dor no coração que escrevo essa resenha. “Bad Magic” foi lançado em um ano um tanto quanto conturbado para a história do Motörhead. A saúde debilitada de Lemmy vem causando uma série de cancelamentos de shows em 2015, um deles aconteceu inclusive no Brasil, quando o vocalista não pode subir ao palco do Monsters Of Rock, em São Paulo, graças a um distúrbio gástrico. Cada um tem o livre arbítrio de escolher como vai viver e Lemmy deixa mais claro do que nunca de que quer ir até o fim fazendo o que sempre fez: subindo no palco e tocando rock n’ roll o mais alto possível. Com essa ideologia e mantendo a mesma pegada de sempre, a banda nos presenteou com mais um excelente disco, soando pesada e divertida ao mesmo tempo.

“Bad Magic” é o 22º álbum da banda e mostra que apesar da saúde de Lemmy não estar das melhores, em estúdio a banda ainda soa impecável. O disco não traz inovações e nem tenta soar diferente do que a banda se propôs a fazer na década de 1970, são 13 faixas de “mais do mesmo”. A voz rouca de Lemmy e sua grave linha de baixo, os power chords de Phil Wizzö Campbell e a monstruosa linha de bateria de Mikkey Dee, tudo permanece intacto. É óbvio que se for para colocar em um papel os melhores lançamentos da banda, as honras ficariam com “Ace Of Spades” (1980) e “Orgasmatron” (1986), mas “Bad Magic” é mais um exemplo de um álbum bem concreto, direto e de qualidade.

Abrindo o álbum, temos Lemmy com sua voz agressiva gritando “Victory Or Die”, antes mesmo do resto da banda entrar em ação. Uma das músicas mais pegadas do disco, que tem de tudo para ficar no setlist da banda, com viradas de baterias sensacionais e um dos mais memoráveis solos de guitarra que Phil Campbell já executou. “Tell Me Who To Kill”, por sua vez, tem um dos riffs mais marcantes e diretos, uma aula de peso e intensidade, assim como a feroz “Thunder and Lightning”. Na balada “Till The End”, vemos o lado mais melódico da banda e um provável desabafo de Lemmy sobre todos aqueles que querem se intrometer em sua vida e desejam logo a sua aposentadoria. “Não me diga o que fazer, meu amigo / Eu me conheço como ninguém” canta o vocalista nos primeiros trechos da música. No refrão, a essência e o legado do Motörhead vem à tona com as seguintes frases: “Tudo que eu sei é quem eu sou / Eu nunca vou decepcionar vocês”. Nos primeiros segundos de “Shoot Out All of Your Lights”, Dee mostra o porquê é o baterista de uma das maiores bandas do mundo, com uma levada insana que segue até mesmo pelo pegajoso refrão da música.

A maior surpresa do álbum talvez esteja na última música, um cover de “Symphaty For The Devil”. Em entrevista recente, Lemmy disse: “Eu gosto da versão dos Stones, mas a nossa é melhor”. Se é realmente melhor ou não, é discutível e varia de gosto pessoal, afinal a original é um clássico e marcou a história do rock. Mas uma coisa é certa, aqui temos uma versão mais agressiva, robusta e encorpada. Lemmy não tenta soar como Mick Jagger, ele colocou a sua própria essência na música, enquanto a bateria de Mikkey Dee parece estar mais alta do que nunca. O álbum ainda conta com as músicas “Fire Storm Hotel”, “The Devil”, “Eletricity”, “Evil Eye”, “Choking On Your Screams” e “When The Sky Comes Looking For You”, todas seguindo a linha de bastante distorção, ferocidade e insanidade.

A banda manteve o alto nível de sempre, o álbum soa como todos os álbuns sempre soaram e é isso que todos nós amamos no Motörhead. Talvez esse seja o último disco de estúdio da banda, e se for, o grupo fecha com chave de ouro os 40 gloriosos anos de história. Todos nós deveríamos tirar o chapéu para Lemmy Kilmister, um dos imortais do rock. Mais um belo disco, digno de muitos aplausos.