Entrevista: Hanson fala sobre produção de ‘Red, Green, Blue’ e shows no Brasil

Entrevista: Hanson fala sobre produção de ‘Red, Green, Blue’ e shows no Brasil

Foto: Divulgação

O Hanson divulgou no primeiro semestre deste ano seu mais novo álbum Red Green Blue, via 3CG Records. O trabalho, que celebra os 30 anos do grupo, conta com um terço de suas faixas escrito e produzido por cada um dos irmãos Hanson.

Para promover o lançamento do álbum, o multi-instrumentista Isaac Hanson conversou conosco com exclusividade, revelando curiosidades sobre o disco inédito, sobre sua produção e processo de composição, além também de revelar suas expectativas para os shows que acontecem no próximo mês de outubro aqui no Brasil.

Confira a seguir a entrevista completa.

Ligado à Música: Olá Isaac, muito obrigado pelo seu tempo e por conversar conosco. Eu gostaria de começar dizendo que acompanho o trabalho de vocês desde o Middle of Nowhere (1997)…

Isaac Hanson: Uau

Ligado à Música: … e é muito bacana finalmente poder conversar com você.

Isaac Hanson: Nós somos muito sortudos de nos conectar com pessoas que nos acompanham desde muito tempo atrás, que começaram muito cedo. Eu acho que é uma coisa muito legal estar fazendo algo há tanto tempo e, mesmo não sendo mais tão novinho (risos), nós ainda estarmos relativamente jovens e dispostos. Isso é muito legal.

Ligado à Música: Ah, ninguém diria que temos mais que 15 anos. Ainda bem que envelhecemos bem (risos).

Isaac Hanson: Sim, exatamente (risos).

Ligado à Música: Nós sabemos que vocês tiveram vários problemas ao longo da carreira, mas não é todos os dias que conversamos com uma banda que está celebrando o seu 30° aniversário. Quais foram os maiores desafios que vocês enfrentaram para chegar até aqui e conseguir essa carreira consolidada que vocês possuem hoje?

Isaac Hanson: Oh, uau! Existem duas coisas… Tem as coisas pessoais, como a banda, manter a banda feliz e saudável, o que é já é desafiador por si só, como todo relacionamento e como todo negócio. E tem as coisas externas, além de você. Pode-se dizer que não é nada que você esteja fazendo… são coisas que você não pode controlar, que são partes do negócio, coisas que você não pode reagir a isso. Como e por que começamos com a nossa própria gravadora em 2003/2004? Porque saímos da gravadora que estávamos? Bem, porque haviam muitas coisas que não podíamos controlar. A gravadora que nós estávamos foi comprada, ela foi inserida dentro de outras marcas, e nós perdemos todos que estavam ao nosso lado, todos que eram responsáveis pelo nosso sucesso, especialmente em Middle of Nowhere, e nós não estávamos conseguindo nos conectar com esse novo pessoal. E eles também estavam mudando muito, muitas pessoas estavam… estavam sendo demitidas, estava tudo bagunçado. Estávamos lidando com muitas coisas que não podíamos controlar. Por exemplo, nós perguntávamos “quem é o presidente dessa gravadora?”, nós não podíamos votar.

E também haviam as coisas que podíamos controlar. Então o que escolhemos fazer foi focar nas coisas que podíamos controlar, porque haviam muitas coisas que nós não podíamos. As coisas que podíamos controlar eram as músicas, escreve-las e gravá-las, e nós estávamos na estrada compartilhando essas experiências com os nossos fãs. E levamos um tempo para conseguirmos, especialmente nos primeiros anos, sair dessa gravadora e fazer o trabalho que estamos fazendo na melhor parte desses últimos quase 20 anos como artistas independentes. E isso foi basicamente a coisa mais importante, nós focamos no trabalho que estamos fazendo, nas músicas que estamos escrevendo, seja ela “MMMbop”, seja ela “Child of Heart” para o álbum novo, ou qualquer outra música. Tem música que você se sente dono, ela é sua, e você se orgulha dela, e isso me leva a pensar que, se eu me sinto orgulhoso, eu posso dividir com minha audiência e confiantemente dizer “eu amo essa música e espero que vocês também a amem”. E se esse sentimento é mútuo, você vai construindo algo que vocês e eles sempre terão juntos. Então acho que esse é o melhor jeito de descrever.

Ligado à Música: E eu diria que essa foi a melhor decisão. Tenho certeza que vocês passaram por muitos desafios, mas com certeza foi a melhor decisão! Este ano vocês lançaram o Red, Green, Blue, mas em todos os shows vocês já tinham um momento solo… por que trazer essa ideia para um álbum?

Isaac Hanson: Bom, eu acho que quando se é uma banda há tanto tempo como nós somos, nós precisamos encontrar maneiras de contar novas histórias e falar sobre coisas de novas maneiras. E uma das perguntas que sempre nos fazem é: “porque vocês não se separam e lançam álbuns solo?”. E nossa resposta sempre foi: “porque nós não sentimos que precisamos disso”. E como você disse, há momentos no show e nos nossos álbuns, que fazemos coisas do tipo… tocamos sozinhos e coisas assim. Como fizemos em 2003 particularmente, e também aconteceu em 1998, com uma música chamada “More Than Anything”, que eu tocava sozinho no piano. Então haviam vários momentos como esses nos shows e nos álbuns, mas nós nunca fizemos um álbum onde havia sido tão claro. Nós nunca fizemos um álbum onde claramente dividimos e dissemos “cada um pega essa quantidade do álbum, essa é sua parte, essa é sua parte e essa é sua parte, vai e faz o que você quiser”.

E eu acho que tem muitas coisas importantes sobre este álbum… não é somente cada um de nós cantando cinco músicas como vocal principal. É também que essa pessoa que exclusivamente escreveu essas canções, ela mesma também produziu aquela parte do álbum e o que isso significa é que a dinâmica da banda foi um pouco diferente. Eu não quero dizer que o Taylor por exemplo me falou “eu não gosto dessa ideia, o que eu quero fazer é isso aqui”, e sim que ele disse: “quais são as ideias que você quer ver acontecer? O que você quer que eu toque? O que você quer que aconteça?”. E desse jeito você está servindo a outra pessoa e não se somando a ela. Isso muda a dinâmica. Você está colaborando, mas de uma maneira muito diferente. Você não é um compositor, você é como se fosse um ajudante ou algo do tipo. Cada um de nós teve que fazer isso nas três diferentes porções do álbum, e eu acho que isso foi saudável, foi muito bom… era servir às visões de outra pessoa e eu acho que isso foi muito interessante.

Ligado à Música: Sim, e eu ia te perguntar sobre isso… qual seria a diferença entre produzir um álbum como banda e produzir esse tipo de álbum?

Isaac Hanson: E também para ser específico sobre produção… quando nós estávamos trabalhando sobre o parte Red do álbum, Taylor tinha o poder de veto. Era tipo “olha, era isso que eu estava pensando”, e você podia rebater com um “ei, mas que tal isso e que tal aquilo?” e ele dizia “não era isso que eu estava pensando”, e todo mundo ficava “ah… ok” (risos). E mesmo que a gente ficasse um pouco frustrado com isso, você tinha que lembrar que esse era o combinado e que nós decidimos assim. Assim foi com o Green e assim foi com o Blue. E eu acho que isso foi muito saudável porque por muito tempo, nós, como banda, fizemos muita coisa juntos, colaboramos muito entre nós,  trabalhamos muito nas músicas… e sempre foi tipo “essa é a minha ideia” e você precisava meio que lutar pela melhor ideia colaborativa.  Mas a melhor ideia é trabalhar usando uma palavra muito importante: “subjetivo”. Em outras palavras, é a sua opinião. Então dar para as pessoas a oportunidade de falar “eu agradeço sua ideia, mas não é que eu estava querendo fazer” realmente permite a cada um de nós nos sentir donos das músicas e ao mesmo tempo estar juntos como uma banda. Foi uma grande mudança no processo artístico, o que permitiu coisas únicas acontecerem e saírem das músicas.

Ligado à Música: E ser totalmente livre, como você disse.

Isaac Hanson: Sim, sim.

Ligado à Música: E o que você diria que são as individualidades de cada um neste álbum? Qual o toque especial do Taylor, qual o seu, o do Zac…

Isaac Hanson: Neste álbum? Uau… Bom, eu acho que esse seja provavelmente, usando um clichê musical, esse seja o álbum mais pessoal que cada um de nós já fez, devido ao processo de composição e gravação. Essa é uma parte interessante do álbum. Eu acho que o Taylor é geralmente uma pessoa emotiva, ele realmente gosta de músicas como, no passado, a “I Was Born”, ou músicas como “This Time Around”, que são exemplos de maneiras de como o Taylor gosta de mostrar motivação. Ele é o tipo de cara que gosta de cantar músicas que são muito motivadoras, tipo,  “aqui está a missão” e coisas do tipo. E neste álbum o Taylor mostrou um lado dele que é mais introspectivo, o que é muito interessante, assim como um pouco mais do seu lado vulnerável, que eu achei muito legal. E eu sei que é uma coisa única dele fazer, ele fez de propósito e eu acho que ele fez um ótimo trabalho.

Para a minha parte, foi pessoal pelo fato de eu não ter decidido que eu queria falar de maneira diferente. Eu não tinha tido a oportunidade de ter todas essas opções livres, da maneira como o álbum me permitia ter. Porque você está sempre lidando com muitas coisas “aqui tem uma ideia, aqui tem outra ideia, vamos pegar todas essas ideias e juntá-las”. E este foi um desafio interessante para mim, olhar para todas as opções que eu tinha e decidir quais que eu queria trabalhar. E todas as músicas, novamente, são pessoais, você pode escutar uma conversa que você está tendo consigo mesmo nessas músicas, e eu digo que foi a mesma coisa com o Zac em Blue. A minha é mais orgânica, a do Taylor é mais… ele tem mais coisas espaciais e ele usa mais violão naquela parte do álbum do que eu achava que ele usaria, e o Zac é mais ritmo, mais animado. Tem várias músicas nesta parte do álbum que parecem que estariam em uma trilha sonora de filme. É uma grande variedade de coisas.

Ligado à Música: Sensacional. E da sua parte, todas as músicas foram escritas para esse álbum?

Isaac Hanson: Sim, quase todas. Eu escrevi, tem uma música chamada “Greener Pastures”, que é um cover, que é uma música que foi escrita pelo nosso irmão mais novo, Mac. Ele tem uma banda chamada Joshua & The Holly Rollers, e nós pensamos em chamar cada parte do álbum diferentemente… e eu provavelmente chamaria minha parte do álbum de Greener Pastures. Nós pensamos em lança-las separadamente, mas ele disse para não fazermos isso, e por causa disso acabei fazendo um cover da música dele. E então eu escrevi outra música com ele chamada “No Matter The Reason” e por que estou te contando isso? Por que essa música não foi escrita para esse álbum, Red, Green, Blue, mas acabou tendo esse propósito. E eu acho que a maioria das músicas do Taylor e do Zac, foram escritas, em maioria um pouco antes ou especialmente para o álbum.

Ligado à Música: E vocês já estão em turnê, certo?

Isaac Hanson: Sim, estamos!

Ligado à Música: E como isso funciona? Cada vez é uma emoção diferente ou vocês já estão acostumados?

Isaac Hanson: Bom, eu acho que estamos um pouco acostumados, e devido ao lockdown e não poder fazer o tipo de turnê que nós planejamos, nós lançamos um álbum em 2021 chamado One Agaist the World, que era para ter saído em 2020. E a turnê que estamos fazendo era para ter acontecido em 2020. Então fizemos alguns ajustes e, para mim, tem sido muito inspirador e revigorante. Parece que os fãs estão especialmente animados para estar nos teatros, e o show também é envolvente, começamos de um jeito e as apresentações vão se moldando com o passar do tempo. Estamos no segundo mês da turnê, músicas diferentes estão começando a aparecer no nosso setlist e isso é também uma parte importante sobre estar em turnê, porque cada show é diferente, cada noite é um pouco diferente. E isso acontece porque você quer ser mais criativo a cada noite, fazer coisas que você ainda não fez e também quer ter a certeza de que se um fã vem e diz “eu vou assistir mais um outro show”, que ele veja algo especial. Então eu acho que todas as noites devem ser especiais, todas as noites devem ter algo novo e nós nos esforçamos em fazer isso para que você aproveite o momento. E eu estou aproveitando o momento e estou feliz que estamos na estrada.

Ligado à Música: Que bom que vocês podem estar na estrada novamente! Vocês estão vindo para o Brasil em outubro e eu tenho certeza que somos a plateia mais alta e barulhenta do mundo (risos).

Isaac Hanson: Sim, sim… (risos).

Ligado à Música:  Como você se sente voltando para cá e o que você espera que os fãs, não só do Brasil, aproveitem nessa nova turnê? O que você espera que eles vejam… que eles absorvam e percebam?

Isaac Hanson: Particularmente eu espero que as pessoas venham para os nossos shows e se sintam inspiradas em estarem vivas, animadas sobre o dia de amanhã e sentindo que elas têm um pouco de energia extra para serem suas melhores versões. É isso que eu espero que nosso show, ou nossa música em geral, seja capaz de fazer pelas pessoas. Às vezes você está triste e precisa de uma música triste que represente onde você está indo, e há músicas como essa. E as vezes você precisa de alguém que te pegue pelos ombros, chacoalhe e diga “vai ficar tudo bem, vamos!”. E acho que as músicas podem fazer tudo isso. Então eu desejo… eu geralmente não espero nada, mas eu sempre desejo que os fãs venham para os shows e tenham tanto um momento de emoção, quanto muitos momentos de alegria, e saiam e digam: “essa foi uma coisa importante de se ter feito, eu me sinto bem sobre o amanhã por causa de hoje e eu quero fazer isso novamente”. E você fazendo isso, você está tornando o mundo um lugar melhor, uma pessoa de cada vez.

Ligado à Música: Isso é muito inspirador. E eu realmente espero que você se divirta muito nessa turnê e que consiga realizar todos esses desejos e que se sinta inspirado todos os dias.

Isaac Hanson: Todas as noites depois de um show, que você tem a chance de conhecer e falar com as pessoas, é sempre algo muito inspirador… assim como acontece também antes dos shows. É sempre encorajador saber que as pessoas se sentem conectadas através da sua música e você tem a oportunidade de ser, de uma forma ou de outra, a trilha sonora das experiências de vida de alguém, assim como de esperança e de oportunidades.

Ligado à Música: Você falou sobre o setlist… tem sido muito difícil, durante todos esses anos, escolher as músicas do repertório? Como vocês as escolhem? Colocam todas em uma caixa e sorteiam (risos)?

Isaac Hanson: Está ficando cada vez mais difícil fazer isso (risos). E eu acho que vamos ter que criar um novo jeito, porque eu acho que nessa altura das nossas vidas, nós temos que começar a fazer shows temáticos ou algo do tipo… assim você pode garantir que está trazendo uma experiência única. Porque realmente tem muita coisa que você pode fazer, e eu sei que muitas pessoas que não conhecem nossa banda tão bem não vão entender o que eu quero dizer, mas você pode fazer um show que é basicamente um show de rock, do começo ao fim, e se divertir muito fazendo isso. Você pode fazer um show que é basicamente dançante e rítmico e ser muito divertido. E fazer um show que é muito doce, com músicas bonitas e cheio de emoções. Então é difícil escolher quais dessas versões você vai querer fazer e nós damos o nosso melhor para entregar uma mistura de tudo isso em nossos shows. As vezes são músicas antigas, como “MMMbop”, as vezes é  a “Save Me”, as vezes é a “This Time Around”… as vezes adicionamos algo a isso ou qualquer coisa do tipo. O importante é que todas as noites você esteja animado em fazer o show. Que todas as noites você consiga fazer algo que não conseguiu na noite anterior, e se você fizer isso, você está se dando energia o suficiente para dizer “essa é uma experiência criativa, uma experiência única, é uma experiência especial”. O show em São Paulo, o show em Porto Alegre, o show no Rio, essa vai ser a única vez que eu vou fazer esse show, e acho que é muito importante ter essa realização de momento, de saber que terão muitas músicas que vamos tocar nesse show e que terão muitas músicas que não tocaremos nesse show, e essa é a parte divertida sobre tudo isso.

Ligado à Música: E isso deve ser difícil, porque os fãs querem ouvir sempre as mesmas músicas, mas vocês precisam mostrar as músicas novas também. Por exemplo, uma vez eu assisti vocês no Rio de Janeiro e em São Paulo, e os shows foram diferentes. Isso é muito legal.

Isaac Hanson: E algumas vezes, não é sempre que se pode fazer isso, mas as vezes os fãs nos pedem para tocar alguma música e nós as tocamos. Um fã vem ao meet and greet e diz “eu adoraria ouvir ‘Runaway Run’, do This Time Around”, e nós dizemos que ok, vamos tocar essa. Então nós ouvimos, estamos sempre ouvindo, estamos sempre tentando fazer coisa diferentes e especiais. Nós sabemos que é importante fazer um show sobre duas coisas, não sobre a experiência em si para o fã, mas sobre o fã que está indo pela primeira vez e sobre o fã que está indo pela décima, vigésima ou centésima vez. Você precisa ter uma versão com todos esses fatores, para garantir que todos tenham uma razão, uma maneira de se conectar. Então nós damos nosso melhor para fazer isso.