Billy Sheehan esbanja técnica e simpatia em masterclass em São Paulo

Billy Sheehan esbanja técnica e simpatia em masterclass em São Paulo

Fotos: Paula Baker/ Lokaos Rock Show

O baixista Billy Sheehan se apresentou no último domingo (27), no Manifesto Bar, em São Paulo. No formato de masterclass, a apresentação de Billy contou com uma sessão de perguntas e respostas, com o músico demonstrando e tirando dúvidas dos presentes referente a técnica, curiosidades e suas inspirações, e uma jam com Ricardo Confessori (Shaman) e Fares Junior (Ronaldo e os Impedidos). A tradução dos presentes para o baixista e vice-versa ficou por conta do vocalista Fabio Noogh (PAD, Soundtrackers), que ainda teve tempo de dar uma palinha com os músicos no final da noite.

Sheehan dispensa apresentações. Mais conhecido por suas atuações com o Mr. Big, Steve Vai e David Lee Roth, o baixista é mais do que referência no gênero. Com um mix de técnicas e estruturas harmônicas em seu catálogo, o artista se destaca desde a execução de seus two-hand tapping até a sua clássica performance usando uma furadeira para tocar as cordas do baixo.

Apesar de ser figurinha carimbada no país, não há quem não fique boquiaberto durante suas exibições. Sendo assim, não faltaram perguntas sobre como o caminho do baixista foi trilhado. Claro que, enquanto respondia as dúvidas dos fãs, o músico executava e exemplificava suas respostas tocando seu instrumento simultaneamente. Confira abaixo algumas das perguntas mais interessantes do Q&A.

Como é que você consegue juntar ambas as mãos na hora de fazer os ‘hammer-on’? Acho que a principal dificuldade para quem executa é como você conecta as duas mãos, pois a técnica é relativamente simples.

Billy Sheehan: Em 1974 eu assisti o ZZ Top. Billy Gibbons estava bem perto de mim. Aliás eu estava na sombra de seu chapéu. Eu amo ZZ Top. Na época, em nossa ‘banda de bar’ nós tocávamos todos os sons possíveis deles. E eu o vi fazer isso. Tocar as notas com a mão direita. Nunca tinha visto isso e foi anos antes do Eddie Van Halen aparecer. Ele não fazia a mesma coisa que Eddie, mas dava pra entender. Então eu cheguei em casa, peguei meu baixo e apertei uma nota. Fiquei surpreso. Funcionou (risos) e eu fui me aperfeiçoando nisso. Logo em 1978 Eddie Van Halen apareceu e explodiu as mentes de todo mundo. Mas aqui tenho uma pequena história pra contar a vocês. Todos nós conhecemos esse trecho de Eruption. Eddie é um cara muito legal e doce, mas tem uma música do Genesis, e não sei se vocês sabem mas o Van Halen inicialmente se chamava Genesis, até Eddie ir a uma loja de discos e ver em um disco que esse nome já era de uma banda. Curiosamente nesse disco tem o trecho de uma música, ‘The Return Of The Giant Hogweed’, e a intro é assim. Parece muito similar não? Não sei se teve influência ou não, mas acho essa história uma grande coincidência. Em 1980 minha banda abriu para o Van Halen por mais ou menos 30 shows e eu ficava ali na frente do palco, junto com os seguranças, vendo Eddie tocar em cima de mim, assim como com Billy Gibbons, e ele era espetacular. Mudou a minha vida. Mas a aventura nunca acaba, nós temos sempre o que descobrir e aprender em nosso instrumento. A aventura ainda está só começando (risos).

Qual foi o baterista mais genial que você já tocou e qual você escolheria se pudesse trazer alguém do passado para tocar junto?

Billy Sheehan: Bom, o melhor músico que eu conheço, em qualquer instrumento, é um baterista. Já toquei com muitos guitarristas, tecladistas e vocalistas, mas o maior músico que já conheci é um baterista. Seu nome é Dennis Chambers (aplausos). Ele é incrível. Além de tudo ele nunca treina ou se aquece, vou dar um exemplo. Antes dos shows ele fica apenas sentado esperando o início, sobe no palco e destrói. As pessoas não acreditam nessa história, mas eu vi e é verdade. Uma vez ele fez uma masterclass de bateria, com um espaço lotado de bateristas e alguém perguntou: ‘é verdade que você nunca ensaia ou aquece antes dos shows?’. E ele respondeu que era verdade, mas todos tiraram sarro. Ele disse que ia provar para eles. Ele perguntou: ‘quantos de vocês bateristas possuem problemas ou dores com suas mãos?’, e a sala toda levantou os braços. Posteriormente, Dennis perguntou: ‘e quantos de vocês praticam?’ e todos levantaram os braços novamente (risos). ‘Viu?’, concluiu Dennis. Enfim, ele é um musico incrível. Bom, e se eu pudesse tocar com um baterista do passado seria Buddy Rich ou Billy Cobham, que ainda está com a gente.

Você já tocou, como você mesmo disse, com Mike Portnoy, com Pat Torpey e muitos outros que possuem estilos muito diferentes. Como você busca essa conexão e a maneira como você toca com esses bateristas de tipos tão diferentes?

Billy Sheehan: Eu os assisto bem de perto. Todo baterista é diferente. Mesmo no mesmo set de bateria, dois bateristas soam completamente diferentes. Então você tem que olhar bem de perto. Normalmente eu ensaio antes de tudo só com o baterista, assim posso ver cada movimento que ele faz. Antes de gravar algum disco, eu faço todas as faixas só com bateria e baixo. É importante entender a bateria e o baterista se você é um baixista. Todo mundo na banda deveria saber sentar na bateria e tocar bumbo, caixa e chimbal. Apenas para tocar no tempo, coisa simples. E se você não consegue fazer isso, peça para o seu baterista ensinar e isso vai melhorar a forma que você toca seu próprio instrumento. O grande problema que vejo com músicos iniciantes é o tempo e se manter no tempo. É a coisa mais importante na banda, até mais do que tocar no tom. Hendrix sempre estava com o instrumento desafinado, mas cara, que tempo (risos).

Como foi tocar com David Lee Roth e Steve Vai juntos? O que você pode nos contar sobre?

Billy Sheehan: Eu entrei para o David Lee Roth quando o guitarrista original ainda era Steve Stevens, do Billy Idol. Mas não funcionou pois ele não queria sair do Billy Idol. Então eu disse para David que conhecia outro Steve. Eu e Vai nos conhecíamos pois estávamos no mesmo selo na época, então ele veio com seu senso de humor alá Frank Zappa e todos nos demos muito bem. Pronto, Steve Vai era nosso guitarrista. Então tínhamos que achar um baterista. Fizemos um anúncio para audições mas sem especificar para qual banda era e mais ou menos 50 bateristas apareceram. Nós testamos todos, usando o mesmo set para todos eles e todos soaram completamente diferentes. Um cara enorme e forte chegou, fazendo com que a bateria ficasse pequena e logo depois veio Roxy Petrucci, a baterista do Vixen, uma garota pequenininha que sentou lá e arrebentou com ele. Mas teve um rapaz que chegou e assim que entrou na sala nós sabíamos que ele era o cara. E isso é engraçado, depois de tantos anos, você sabe dizer o quão bom um músico é mesmo antes dele ter tocado. Eu não sei como e nem porque, mas sabíamos que Greg seria o nosso baterista mesmo antes dele sentar-se. Ele foi lá e tocou maravilhosamente, com um ótimo senso de humor. E nós fechamos a banda. Engraçado que ele era muito fã de Beatles e hoje ele é o baterista do Ringo. As vezes se você faz um pedido, ele realmente acontece.

Billy também declarou ter sido fortemente influenciado por Paul McCartney, Jack Bruce e principalmente por Tim Bogert, o que chamou de ‘sua maior influência’. Quando perguntado o porque de ter escolhido a cidade de São Paulo para a apresentação, brincou que não escolhe onde toca e sim que depende do quanto pagam. ‘Tocamos em qualquer lugar, a menos que esteja tendo uma guerra’, brincou. ‘Uma vez na Índia estava tendo uma guerra entre duas tribos, mas o Mr. Big tocou e eles pediram bandeira branca, então até mesmo onde tem guerra nós tocamos’, concluiu rindo.

Além disso, o músico explicou o porque de usar o seu baixo com duas saídas e dois cabos em canais diferentes, contou das vezes em que é contratado para ser músicos de outros artistas, como Steve Vai por exemplo, quando ele foi tentar incluir suas técnicas nas linhas de baixo com o guitarrista e foi brecado por ser sofisticado demais. ‘Eu tocava assim’, disse enquanto tocava apenas uma nota e olhava para o relógio perguntando quando acabaria, tamanha a simplicidade que foi obrigado a tocar. Os presentes novamente caíram na gargalhada. Por fim, quando perguntado sobre sua furadeira, ele disse que a deixou em casa pois a mesma estava em obras..

Após a sessão de Q&A, Sheehan brincou que precisava mostrar ao público as saídas de emergência caso alguém quisesse fugir pois ele que assumiria os vocais durante a jam. Os presentes novamente caíram na gargalhada. No pequeno repertório, canções do Judas Priest, Iron Maiden, Deep Purple, David Bowie e, claro, do Mr. Big, foram executadas. Em um clima descontraído, Billy agradeceu a presença de todos e disse que sempre que puder estará voltando para a cidade de São Paulo. Após o show, o músico atendeu e bateu foto com os fãs que ali restaram. Que noite!