Nelson Motta relembra os primeiros festivais no Brasil

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Foto: Divulgação

Nelson Motta esteve na ultima semana em São Paulo para lançar seu novo livro “As Sete Vidas de Nelson Motta”, além do álbum “Nelson 70”, na Fnac Pinheiros. Com discotecagem do DJ Pilha, a trilha sonora do evento foi composta por músicas escritas pelo jornalista e escritor. Motta aproveitou para contar algumas curiosidades sobre sua carreira. Relembrou momentos ao lado de Tim Maia, Elis Regina e Marisa Monte. Sobre Vinicius de Moraes, disse que adorava o poeta e declarou ser sua maior influência nas composições: “Ele foi uma figura central na minha vida e de toda essa minha geração: Chico [Buarque], Edu [Lobo], Caetano [Velloso], [Gilberto] Gil. Vinicius era uma presença como um pai ou como um irmão mais velho. Às vezes até como um irmão mais novo, porque ele se apaixonava, chorava”, brincou Motta.

Com exclusividade ao portal Ligado à Música, Nelson Motta recordou dos primeiros festivais realidades no Brasil. O próprio jornalista foi quem idealizou o primeiro Hollywood Rock, em 1975. O evento foi inspirado no antológico festival Woodstock, de 1969. Na época, o Brasil estava na ditadura militar, com censura e pouca tecnologia. Porém o sonho de realizar o festival foi possível após Nelson conseguir um patrocínio de uma empresa fabricante de cigarros. Mas para acontecer, foi necessário antes resolver o processo burocrático: “Para fazer um festival desses, você tinha que ser um samurai. Você tinha que ter tanta licença, a ditadura era tão paranoica com juntar jovens pra qualquer coisa, que imaginava que iria virar logo um comício, achava que nego iria gritar ‘abaixo a ditadura’. Então, fazia tudo pra não ter reuniões de ninguém se possível. Você tinha que apresentar certificado do bombeiro, da associação de bairro, da censura, da polícia, do DOPS. Você tinha que apresentar a carteira de censura de todos os músicos, as letras de todas as músicas que iriam ser cantadas, tinha que estar liberadas pela censura. Era pra irritar, pra ver se você desistia, mas não existi”.

O Hollywood Rock aconteceu em quatro sábados naquele ano no Estádio do Botafogo, no Rio de Janeiro, para 10 mil pessoas. O idealizar contou algumas curiosidades do festival: “O festival teve coisas maravilhosas. Foi a primeira apresentação da Rita Lee, depois dos Mutantes, com o Tutti Frutti, mas o som estava muito ruim. Depois, no dia do show dos Mutantes, desabou um temporal que acabou no meio. Desabou o palco, graças à Deus não machucou ninguém, mas foi uma noite terrível. Depois teve uma noite histórica que eu quis fazer de gerações de rock. Foram três gerações que teve Celly Campello e Tony Campello, Erasmo Carlos e Raul Seixas. Foi genial isso. Valeu o festival todo”.

O evento foi documentado em vídeo, dirigido por Marcelo França, intitulado “Ritmo Alucinante”. Motta disse que o som está precário por conta dos recursos da época no país: “Só o do Raul Seixas é razoável. A tecnologia era muito ruim, tudo foi muito precário”.

Nelson Motta realizou outro festival no Rio, em Saquarema, o “Som, Sol e Surf”, em 1976, também com Rita Lee e Raul Seixas. Porém, esse evento não foi bem sucedido. Além de problemas com o mau tempo, o público acabou invadindo o local: “Esse foi um desastre comercial absoluto. Eu fali praticamente porque choveu, desabou o palco no primeiro dia. Nem teve o primeiro dia, passou tudo pro segundo. Era um campinho de futebol em Saquarema e tinha um murinho. O público derrubou o muro, entrou todo mundo de graça. Eu saí quebrado daquilo. Feliz, mas quebrado”.

Mas foi com o desastroso festival que Nelson conseguiu montar, no mesmo ano, a lendária discoteca Frenetic Dancin’ Days. Os donos do Shopping da Gávea viram na imprensa matérias sobre o evento em Saquarema e o chamaram para criar algo novo no local: “Os donos lá do shopping falaram ‘po, esse festival foi espetacular’, porque saiu na televisão, todo mundo viu. Essa parte da desgraça comercial era secundária. Pensaram ‘esse cara sabe fazer eventos’ e me chamaram pra eu fazer o que quisesse no shopping novo. Eu fiz a discoteca Dancin’ Days, teve Frenéticas, e o resto é história. Está contada em detalhes no livro”, finalizou.

Assista a seguir o documentário “Ritmo Alucinante”, sobre o Hollywood Rock, de 1975. Em seguida, um trecho do doc “Som, Sol, Surf”, de 1976.

https://www.youtube.com/watch?v=ICwLyPHm83Y