Zé Antonio Algodoal comenta sobre seu livro ‘Discoteca Básica’
Quem já não gastou um pedacinho do seu tempo preparando alguma lista de “melhores”? Filmes, livros, restaurantes, opções não faltam. Mas entre todas as possibilidades, a música parece ser campeã nesse quesito. A gama de alternativas que surge a partir dela é enorme: gêneros, subgêneros, canções, singles, bandas e artistas solo são apenas alguns exemplos. Mas são os discos que sempre acabam merecendo maior destaque para os aficionados por músicas e listas.
Para esses, a Edições Ideal acaba de lançar um presente. Organizado pelo diretor de TV e guitarrista Zé Antonio Algodoal, o livro “Discoteca Básica” traz nada menos que cem personalidades listando seus 10 álbuns favoritos. São jornalistas, músicos e artistas das mais variadas áreas, falando um pouquinho sobre cada um de seus escolhidos.
“A ideia do livro surgiu há uns quatro anos e mudou muito pouco em relação ao projeto inicial”, conta o autor. “Sou um apaixonado por música e por um bom tempo fiquei bastante incomodado com a cultura dos downloads. Não que eu seja contra qualquer avanço tecnológico, muito pelo contrário, mas muita gente baixava apenas uma música que por vezes ficava fora do contexto de obras fechadas como o ‘Sgt Peppers Lonely Heart’s club band’ (The Beatles) e ‘The Wall” (Pink Floyd), cuja unidade deve ser apreciada”.
Ele lembra que achava importante fazer alguma coisa que levasse o ouvinte a se interessar novamente pelo disco como uma obra fechada. “Com o aumento dos aplicativos como o Rdio, Spotify, etc, ficou mais fácil ouvir um álbum por inteiro sem a necessidade de gastar dinheiro para comprar algum formato físico”, explica. “Como também gosto de listas, achei que fazer um livro reunindo personalidades e pedir cada um que escolhesse e comentasse seus dez álbuns prediletos poderia ser divertido”.
Entre as personalidades estão os jornalistas Lúcio Ribeiro e Camilo Rocha, os músicos Nando Reis, Dinho Ouro Preto, João Gordo, os produtores Carlos Eduardo Miranda e Rafael Ramos, os ex-apresentadores da antiga MTV nacional, Gastão Moreira e Astrid Fontenelle, e o diretor teatral Felipe Hirsch. “Seria fácil convidar apenas músicos, mas optei por uma lista de convidados mais eclética. Achei bacana mostrar que pessoas atuantes em atividades tão diversas possam ter uma ligação estreita com a música”, conta o escritor.
Algodoal enfatiza, ainda, que não se trata de um livro de crítica musical. “Desde o início deixei claro que a relevância histórica de cada álbum não era tão importante quanto a ligação afetiva. O importante aqui era mostrar que ninguém é impermeável à música e que, de um jeito ou de outro, todos temos discos que marcaram algum momento em nossas vidas, mesmo que isso tenha acontecido através de uma única música”.
Outro nome que não poderia ficar de fora de um projeto como esse é Kid Vinil, que mereceu agradecimento especial no início do livro. O jornalista e produtor é um dos nomes mais importantes da música contemporânea produzida no Brasil e desde o início da década de 1980, vem compartilhando seu vasto conhecimento musical com quem estiver interessado em aprender mais sobre o tema.
Para organizar a coisa toda, o autor, que trabalhou por quase 20 anos na MTV Brasil, à frente de programas como o “Lado B” e “Supernova”, fez uma única pergunta aos entrevistados: “quais os dez discos da sua vida?” A partir daí, cada um usou seus próprios critérios para falar de seus preferidos.
Inicialmente, ele lembra que chegou a contactar 200 pessoas para participar do projeto e, que para sua surpresa, a grande maioria topou na mesma hora. “Acho que as listas são parte de nossa vida, um modo de organizar as informações, das mais simples às mais complexas”, analisa. “Até mesmo Umberto Eco já escreveu um ensaio bastante interessante sobre o assunto, ‘A vertigem das listas’, em que demonstra como elas fazem parte do pensamento e da cultura ocidental”.
“Sempre adorei listas e inúmeras vezes me vi diante dos amigos tentando definir quais os melhores discos, filmes, beldades, jogadores, livros, etc”. Segundo o autor, todos fazemos listas o tempo todo. “Essas discussões sempre foram um delicioso exercício de memória, de paixão e de convicção. E o mais legal de tudo é que a nossa vida é dinâmica. A cada dia conhecemos coisas novas, nossas referências mudam e as listas também”.