Fotos: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
A segunda metade do festival São Paulo Trip foi marcada pelo hard rock das décadas de 1970 e 1980. Com Def Leppard e Aerosmith escalados para o domingo passado (24), terceiro dia do evento, o público paulista teve a oportunidade de assistir um desfile de hits, com dois gigantes nomes do rock americano e inglês.
Pontualmente, os britânicos do Def Leppard subiram ao palco do Allianz Parque com a faixa “Let’s Go”, de seu mais recente homônimo álbum. Sem fugir do tipo de som que popularizou o grupo, a faixa introduziu o espetáculo que acabara de começar. “Bem vindo à festa”, canta o vocalista Joe Elliot no refrão da canção. “Animal”, clássica faixa do álbum mais popular do grupo, “Hysteria” (1987), fechou a dobradinha inicial e foi a responsável por puxar o desfile de hits que viria a seguir.
“Let It Go” fez com que os presentes saíssem do chão. A música do álbum “High ‘n’ Dry” (1981) faz parte da fase NWOBHM dos britânicos e antecede o período mais puxado para o hard rock e para o pop do Leppard, possuindo assim um pouco mais de peso. Como não poderia faltar em um show de hard rock, a primeira balada da noite veio a seguir. “Love Bites” foi cantada de ponta a ponta pelo público, muito provavelmente pelo sucesso que a versão da banda Yahoo, “Mordidas de Amor”, fez no país em 1988, sendo trilha sonora de novela e tudo mais. Ainda sem sair do multi platinado álbum de maior sucesso da banda, o grupo executou “Armageddon It”.
Quando o Def Leppard lançou o seu terceiro disco, “Pyromania”, o grupo não fazia ideia da difícil tarefa que teria em frente. Passando por uma enorme reviravolta em suas vidas pessoais e superando diferentes tipos de dificuldades, os britânicos agora estavam nos topos das paradas, encontravam-se milionários e pressionados pela gravadora a buscar algo ainda maior. “‘Pyromania’ já fora quase perfeito, então eles tinham que fazer algo melhor ainda”, disse o jornalista David Fricke a um episódio da série de DVDs “Classic Albums”. Dessa vez a produtora queria nada mais nada menos do que sete singles atingindo as paradas mundiais.
Como se não bastasse a pressão interna, o grupo ainda enfrentaria o choque do acidente de Rick Allen, no final de 1984, e a exclusão do produtor Matt Lunge, que havia liderado o projeto do disco anterior. Steinman, contratado em seu lugar, acabou sendo também pago para deixar a direção do álbum, pois as ideias entre os integrantes da banda e o produtor eram incompatíveis. Finalmente, com Lunge de volta a direção e após alguns anos de gravações, o grupo conseguiu o alcançado com Hysteria, em 1987.
Voltando ao show, é óbvio que as canções do álbum, que foi até mesmo incluído na lista dos 500 maiores de todos os tempos, da revista “Rolling Stone”, não iriam ficar de fora. “Rocket”, “Hysteria” e o clássico “Pour Some Sugar on Me”, fizeram os presentes dançar e cantar em uma só voz. Destaque também para a produção de palco e de luz que o grupo trouxe, fazendo das faixas um verdadeiro espetáculo não só sonoro, mas também visual. “Bringin’ on the Heartbreak”, canção famosa por sua clássica execução no DVD “Live: In the Round, in Your Face”, também foi muito bem apreciada pelo público. Durante o instrumental de “Switch 625”, os holofotes se viraram para Rick e seu solo de bateria, longe de ser cansativo e deixando todos boquiabertos. Claro que, para quem não conhece a história de superação do músico, aquilo parecia ser um absurdo. “Como um baterista consegue fazer tudo aquilo com apenas um braço?”.
Já na reta final do show, viriam as faixas “Rock of Ages” e “Photograph”. Essa última muito provavelmente sendo o momento mais emocionante do espetáculo, com imagens do falecido guitarrista Steve Clark aparecendo no telão. A canção foi uma espécie de “assinatura” de Steve, que sempre se demonstrou como não só a mente por trás da banda, mas também o carisma. Valeram os vinte anos de espera. O Def Leppard entregou ao nosso país um show digno e a altura de sua história, não sendo a toa um dos nomes mais conhecidos do hard rock mundial.
Sem qualquer tipo de dúvidas de que o Aerosmith faria um bom show, o público aguardava ansiosamente pelos “bad boys de Boston”. Foi então que, com 24 minutos de atraso do programado, os músicos subiram ao palco com “Let The Music Do The Talking”. Ao fim da faixa introdutória, Tyler saudou pela primeira vez os presentes, em português: “E ai, meu?”. A dobradinha inicial aconteceu com o clássico “Love In An Elevator”, com direito a Steven se jogando no chão e cantando deitado.
Desde os primeiros minutos de palco, Tyler demonstrava o que sabe fazer de melhor, além de cantar. O vocalista corria, dançava e interagia, chegando a até mesmo pegar o celular de uma fã que estava no canto do palco para filmar a si mesmo enquanto fazia caras e bocas. Um verdadeiro showman.
Com clássicos de sobra, o Aerosmith não precisou usar da estratégia de guardar o melhor para o final. O melhor acontece durante todo o repertório, ainda mais com a sequência que viria a seguir: “Cryin'”, “Living on the Edge” e “Rag Doll”. Nessa última, Joe Perry usou e abusou de sua lap steel, um tipo de instrumento que se parece com uma guitarra, mas que fica na posição horizontal e é tocado com slide. “Como vocês estão São Paulo?”, perguntou o guitarrista. “A faixa a seguir nós executamos em todos os shows, mas ela sempre sai diferente, um verdadeiro blues de Boston”, concluiu. Então, duas versões de Fleetwood Mac, “Oh Well” e “Stop Messin’ Around”, foram tocadas com Perry na liderança.
A essa altura do show, a certeza de que o Aerosmith estava-se saindo muito melhor do que no Rock in Rio era grande. Ainda mais com “Mama Kin” vindo a seguir, clássico que não era executado no país já havia algum tempo. Alguns boatos de que a saúde de Steven comprometeu sua atuação no show do Rio de Janeiro apareceram por essa semana, mas nada ainda oficialmente confirmado pelo grupo. De qualquer forma, sabe-se que o vocalista sempre tenta o seu melhor e que com toda certeza fez o que pode para os fãs cariocas (e de todo o Brasil). Dando sequência, as baladas “Crazy” e “I Don’t Want to Miss a Thing” foram cantadas em uníssono pelos presentes.
Já na reta final do show, veio “Come Together”, dos Beatles. Para a loucura dos fãs, Steven cantou um trecho de “Hole In My Soul”, mas a execução da faixa não chegou a ser completa. Apresentando o baixista Tom Hamilton, Tyler deu abertura para o clássico “Sweet Emotion”. “Vamos chapar o coco?”, brincou Steven, arrancando sorrisos dos presentes. “Dude (Looks Like a Lady)”, música escrita para Nikki Sixx, devido a forma com que o ex-Motley Crue costumava se vestir na década de 1980, foi a faixa que o Aerosmith apresentou antes de se retirar do palco pela primeira vez.
Voltando para o encore com as escritas de “São Paulo, vocês são número 1” nos teloes, Steven Tyler sentou-se em seu piano branco na ponta da passarela, para “Dream On”, com Joe Perry solando em cima do instrumento. Olhando para o seu pulso como quem pergunta “temos tempo para algo mais?” para Perry, Tyler sorriu e o Aerosmith fechou a noite com “Walk This Way”.
Ao término da dançante música, ainda houve tempo para o vocalista brincar com uma fã que pedia para que ele tirasse a roupa. “Sobe aqui e tira comigo”, brincou o frontman.
O Aerosmith se retirou do palco do Allianz Parque com o dever mais do que cumprido, ainda mais com as notícias que viriam no dia seguinte, de que o resto da turnê sul-americana seria cancelado devido a problemas de saúde de Steven Tyler. O vocalista se entregou ao máximo e não deixou de maneira alguma transparecer qualquer tipo de problema. O Aerosmith proporcionou ao público paulista, mais uma vez, um espetáculo digno de lendas do rock. Vamos torcer para que Steven melhore logo e para que a banda possa retornar em breve para o país.