Reckless Love – InVader (Spinefarm Records)
Nota: 9,5
Nem só de auroras boreais ou do sol da meia-noite, belíssimos fenômenos da natureza, vive a Finlândia. Antro de bandas como Hanoi Rocks e The 69 Eyes, o país, junto com a Suécia, vem se mostrando cada vez mais forte quando o assunto envolve hard rock e glam metal. Com mais de uma década de estrada, porém com o seu debut álbum lançado apenas em 2009, o Reckless Love entra nessa lista.
Pra quem não conhece, o grupo é uma mistura de tudo que rolou na década de 80, um revival dos anos do laquê, glitter, calças coladas e muita (com foco imenso na palavra) diversão. A diferença é que aqui temos tudo isso potencializados com um certo grau de modernidade, e talvez seja isso que divida tantas opiniões a cerca da sonoridade da banda. Três anos depois do seu último lançamento, o Reckless Love retorna com o seu quarto trabalho de inéditas, intitulado InVader (nome que faz um jogo de palavras com o número quatro em algarismo romanos, IV). Aqui a fórmula não foi alterada, pelo contrário, ela foi potencializada. Se você não gostou dos trabalhos anteriores, passe longe desse. O grupo liderado por Olli Herman consegue soar mais grudento do que nunca. Se assim como eu, você for um amante da banda, InVader vai lhe descer perfeitamente.
Sem querer deixar o melhor para o final, o álbum já começa com tudo. “We Are The Weekend”, faixa de abertura, traz um arena rock descompromissado e sem qualquer tipo de preocupação em soar inovador. Se isso é um problema? Absolutamente não! Sintetizadores, vocais melódicos e versos chicletes. Ei, Doc, voltamos para 1986? “Hands” segue a mesma onda, só que com muito mais peso e agressividade. A faixa seguinte, “Monster”, primeiro single do álbum, é um verdadeiro party rock anthem. Com Pepe usando e abusando dos seus harmônicos artificiais enquanto Olli canta sobre o corpo feminino, aqui é impossível ficar parado.
Musicalmente falando, a década de 1980 ficou marcada por diversos outros gêneros além do hard rock, entre eles o pop rock, synthpop e claro, o new wave. A quarta faixa do álbum, “Child Of The Sun” consegue ser uma mistura de tudo isso. Soando diferente de tudo o que o grupo já fez, mas nem por isso com um menor grau de qualidade, aqui a dupla Vince Clarke e Andy Bell (Erasure), ficaria orgulhosa. O apelo pop fica ainda maior em “Scandinavian Girls”, que soa como um encontro entre Katy Perry e David Lee Roth. A faixa, que conta a história de um rapaz que já conheceu todos os tipos de mulheres mas nunca encontrou beleza como a das escandinavas, parece ser uma resposta para “California Girls”, do Beach Boys, gravada pelo frontman do Van Halen.
“So Happy I Could Die” foi uma das faixas de maior sucesso do último álbum, Spirit (2013). Porque não investir outra vez em algo que funcionou perfeitamente? Ao melhor estilo Motley Crue, “Bullettime” deixa de lado os elementos eletrônicos que estavam presentes nas outras duas faixas e trás de volta o peso dos anos 80. “Rock It” transita pelas duas fases do Def Leppard. Com uma introdução parecendo a fase grunge e noventista do grupo, e um refrão grudento no maior estilo “Hysteria”.
Guns N’ Roses, Poison e Van Halen. Diante de todas essas influências, seria impossível imaginar que um álbum do Reckless Love não fosse contar com a famosa balada obrigatória. Felizmente, “Destiny” cumpre esse papel com extrema maestria. A décima e última faixa do disco, “Let’s Get Cracking (THWP)”, começa agressiva e rápida, mas em sua reta final sofre um twist inesperado. Mudando totalmente o seu clímax, o quarteto troca os instrumentos elétricos pelos acústicos e faz um sing-along festivo, encerrando o álbum com chave de ouro. A versão deluxe do álbum ainda conta com a “Keep It Up All Night”, divulgada já no final de 2015.
O Reckless Love não está preocupado em nada além de uma coisa: se divertir. Sem mudar a fórmula de sucesso dos três álbuns anteriores, InVader trás uma longa e divertida viagem por tudo que a década de 1980 proporcionou de melhor. Candidato fortíssimo a figurar entre as três primeiras vagas de melhores álbuns de 2016.
Vale ressaltar que o disco só não ficou com a nota máxima, pois o segundo álbum do grupo, Animal Attraction (2011), vai ser uma perfeição difícil de ser ultrapassada.