‘Nem mesmo nos despedimos’, diz Tommy Lee sobre último show do Mötley Crüe
Cinco meses depois da despedida do Mötley Crüe, Tommy Lee, o eterno baterista da banda, conversou com a Rolling Stone norte-americana. Em um papo aparentemente sincero, o músico contou como foi o clima de despedida entre os integrantes, também a sensação de fechar um legado de mais de 30 anos, e claro, sobre o que aconteceu com a sua bateria no último show, quando ficou preso de ponta cabeça no meio da arena (relembre). Confira a seguir a entrevista traduzida.
Rolling Stone: Como você se sente em relação ao show de despedida do Mötley Crüe, agora que quase meio ano se passou?
Tommy Lee: Eu sempre disse que essa sensação não iria passar, até deus sabe quando. Você ainda está saindo da adrenalina de excursionar por praticamente dois anos seguidos. No mês passado eu comecei a pensar: “Caralho, isso foi real!”, mas não tenho sentimentos ruins sobre a despedida. Costumo olhar em minha volta, abrir um sorriso e pensar: “Porra, nós arregaçamos”. Estou feliz por estar em casa e aproveitando a minha vida.
Rolling Stone: Você esteve em contato com os outros membros da banda?
Tommy Lee: Não com Vince ou com Nikki. Eu converso bastante com Mick, ele está trabalhando em novos projetos e eu me sinto muito feliz por ele.
Rolling Stone: Vamos conversar sobre o show de despedida. Você se sentiu ansioso antes de subir ao palco?
Tommy Lee: Sim. Meu deus… tão ansioso! Mas eu sempre estou, antes de qualquer show. Eu sempre fico inquieto nos dez minutos antes de um show. Eu digo pra mim mesmo: “Cara, o dia que você não ficar nervoso antes de subir no palco, é hora de parar porquê isso significaria que a paixão teria acabado”.
Rolling Stone: Como foi o pré-show da banda? Foi diferente para esse último show?
Tommy Lee: Não. Nos encontramos no palco e deixamos rolar.
Rolling Stone: Não tinha um “senso de união”?
Tommy Lee: Então… foi um pouco estranho. Nós eramos uma banda estranha pra caralho. Mais estranho ainda depois da noite final, nós tivemos uma grande festa no backstage durante o ano novo e eu nunca mais vi os outros caras. Nem mesmo nos despedimos. Estranho pra caralho… Quer dizer, que porra foi aquela?
Rolling Stone: Por que ninguém se despediria de você?
Tommy Lee: Eu realmente não sei. Quer dizer, se você está se divorciando, você ainda dá um abraço na sua ex ou empurra ela, algo do tipo. Você também ou ganha um beijo ou um tapa… alguma coisa. Algum sinal… Deixe o outro saber que você está vivo.
Rolling Stone: Então você REALMENTE não conversou com Nikki ou Vince desde o show…
Tommy Lee: Se não me engano, Nikki me deu unfollow no twitter tipo… no outro dia. Eu fiquei tipo: “Uou, beleza, mano”.
Rolling Stone: Teve algum problema que levou Nikki a fazer isso?
Tommy Lee: Sempre tiveram problemas.
Rolling Stone: Tem uma cena no filme que vai sair nos cinemas, em que você disse que sentiu que a criatividade da banda tinha acabado. Quando isso aconteceu?
Tommy Lee: Eu senti isso duas vezes. Primeiro em 1999, quando eu saí. Eu precisava fazer algo criativo porque ninguém queria experimentar ou avançar novas barreiras. E então, eu voltei (em 2004) e nós fizemos algumas músicas por um tempo. O disco “Saints of Los Angeles” (2008) foi a última vez que nós fomos criativos juntos, mas não foi aquele tipo de criatividade… Cada um escreveu as suas partes separadamente, foi um processo bem estranho e eu fiquei tipo: “Não é assim que as coisas funcionam”. O disco saiu OK, mas não sei… Foi quando eu comecei a perceber que nós meio que havíamos dado de cara com a parede. Precisava ter mais mentes abertas na banda para continuar o processo de criação, explorando algumas coisas e tentando fazer algo novo, e isso não estava acontecendo mais.
Rolling Stone: Tirando essa maneira estranha de que as coisas terminaram, você teve alguns minutos de arrependimento e vontade de cancelar a despedida?
Tommy Lee: (Risos) Não, na verdade não. Quer dizer… caralho. Nós fizemos tudo do nosso jeito.
Rolling Stone: Enfim… Rolou um monte de pirotecnia durante “Girls, Girls, Girls” e no resto do show. Como você se acostumou com isso?
Tommy Lee: Eu amava. Ficava quente pra caralho lá em cima. Em todos esses shows, o meu “drum tech” estava atrás de mim me molhando. Algumas vezes, as chamas estavam tão quentes que eu me queimava. Logo atrás de mim também, estava aquele pentagrama gigante pegando fogo. Ele tinha 9 metros de diâmetro, quando tudo pegava fogo, se eu não estivesse molhado, era impossível ficar sentado lá.
Rolling Stone: Você já chegou a pegar fogo?
Tommy Lee: Não, mas muitas faíscas voavam no meu cabelo e você podia sentir o cheiro de fumaça.
Rolling Stone: Nessa turnê, você tinha a montanha-russa para o seu solo de bateria, mas ela funcionou mal no último show. O que aconteceu?
Tommy Lee: Primeiramente, eu estava “É o último show, é ano novo, por que eu sinto que alguma coisa vai ter que dar errado?”, eu não sei se fui que me amaldiçoei. Toda aquela coisa era controlada sem fio algum, por um cara no chão. Montamos um monte de câmeras wireless para capturar a última noite e ainda tivemos algumas conversas antes do show, dizendo: “Se recebermos algum sinal, a montanha-russa entra no modo de segurança, que é onde ela é desligada”. E claro, foi o que aconteceu. Eu fiquei tipo: “Foda-se. Eu sabia que essa merda ia acontecer”.
Rolling Stone: Quando o sentimento de pânico passou?
Tommy Lee: Bom, eu fiquei lá preso de ponta cabeça por um tempo. Nós demos uma editada no filme, mas a minha cabeça estava quase explodindo. O sangue estava descendo. Eu consigo ficar de ponta cabeça por um tempo, mas depois começa a ficar estranho. Eu vi um dos nossos técnicos subindo e pensei “Graças a deus. Essa coisa vai virar para o lado certo em um segundo. Vou conseguir respirar de novo”. Eles conseguiram arrumar e ele disse no meu ouvido: “Cara, nós estamos de volta e funcionando. Está boa para continuar”. Nós estávamos no final da música, já lá no fim da arena, então eu pensei: “Quer saber? Foda-se! Eu vou descer dessa coisa porque eu não quero correr o risco dela parar no meio do caminho de volta”. Se eu ficasse preso no meio, o plano B de escape não era legal. Eles viriam me tirar e me colocar em uma corda de rapel pra me descer. Seria feio. Eu fiquei tipo: “Foda-se, estou fora”.
Rolling Stone: Vocês filmaram duas noites. Por que você decidiu deixar nas filmagens o acontecido?
Tommy Lee: Porque até que foi divertido.
Rolling Stone: Durante o seu solo de bateria, você tocou Kendrick Lamar, Black Sabbath e Chemical Brothers. Bem bacana ver que você conseguiu licenciar esses sons para o filme.
Tommy Lee: Eu sabia que seria um pesadelo pra licenciar, mas conseguimos. Tipo, eu fiquei impressionado porque muitos dessas músicas, especialmente “Uptown Funk”, são gigantes. Eu nem acreditei, na real.
Rolling Stone: Esse é seu tipo de som?
Tommy Lee: Sim! Todas as coisas que eu amo, além de algumas coisas underground que ninguém nem deve conhecer. Essas paradas me animam pra caralho e eu queria fazer os fãs de Mötley curtirem também, porque as chances deles nunca ouvirem esses sons, eram grandes. Tem tanta música boa por ai, especialmente no mundo eletrônico, onde as frequências são simplesmente gigantes. Elas movem o seu corpo de um jeito totalmente diferente de qualquer banda de rock.
Rolling Stone: Alguns fãs já te disseram que estavam curtindo coisas novas por causa dos seus solos?
Tommy Lee: Sim. Sempre tem gente me perguntando: “Cara, que som era aquele que você estava mandando na batera?”, o tempo todo. Eu amo isso.
Rolling Stone: Bem no final do filme, você está indo embora e está tocando nas mãos dos fãs enquanto se despede. Como foi isso?
Tommy Lee: Foi definitivamente estranho, cara, principalmente na última noite. Foi tipo “Caralho, isso realmente está acontecendo. Merda”.
Rolling Stone: Já faz cinco meses desde o último show. Como tem sido os seus dias desde então?
Tommy Lee: Meus planos era de tirar um ano de folga e apenas relaxar. Eu lembro da minha noiva fazendo: “Meu, sem chances de você ficou um ano sem fazer nada”. E ela estava certa. Eu estou trabalho em alguns remixes para alguns artistas e também escrevendo algumas coisas no meu estúdio. Não chegou nem mesmo perto de um ano. Não consigo ficar parado.
Rolling Stone: As suas músicas novas estarão mais para o lado do eletrônico?
Tommy Lee: Sim. Definitivamente vão existir algumas influências eletrônicas, com certeza. Depois que você experimenta, você não consegue mais voltar atrás.
Rolling Stone: Quando você olha para os 34 anos de Mötley Crüe, você desejaria que algo tivesse sido diferente?
Tommy Lee: Definitivamente não. Nós conseguimos alcançar tudo que nós queríamos. Mas com certeza seria legal começar sabendo tudo que eu sei agora (risos).
Rolling Stone: O que você quer dizer?
Tommy Lee: Porra, você não sabe como funcionam os negócios, como funcionam as turnês, como a vida é. Provavelmente não teria tanta graça, sabendo tudo e começando do zero, mas às vezes eu penso, talvez seria legal.
Rolling Stone: “The Dirt” teria sido um livro totalmente diferente.
Tommy Lee: Exatamente.
Rolling Stone: Como você se sente em relação ao Mötley Crüe, quando olha pra trás em um geral?
Tommy Lee: Eu não tenho sentimentos ruins. Estou dizendo isso com um sorriso no rosto. Me sinto feliz por ser parte de algo que foi impactante para tantas pessoas, musicalmente e em seus estilos de vida. Isso é muito insano e eu estou bem feliz que nós decidimos terminar por cima e não deixando a coisa afunar como tantos de nossos ídolos musicais. É bem legal e uma puta honra se despedir quando você ainda é maior que a vida. Poderia ter sido um caminho diferente.
“Mötley Crüe: The End”, o filme com a última apresentação da banda irá passar nos cinemas norte-americanos no dia 14 de junho e posteriormente será lançado pelo grupo. O trailer oficial foi divulgado na semana passada pelo Crüe, e também vai contar com algumas entrevistas e cenas de backstage.