Hollywood Vampires – Hollywood Vampires (Universal Music)
Nota 9
Com a ideia de homenagear e celebrar o clube de rockstars do qual fazia parte na década de 1970, Alice Cooper decidiu formar um trio com Joe Perry e Johnny Depp. O interessante e curioso projeto não apareceu para reinventar ou salvar o rock, o álbum foi feito quase que inteiramente por versões de clássicos de outras bandas, versões essas com a pegada suja e distorcida que todos nós já conhecemos do “titio” Alice.
O Hollywood Vampires era nada mais do que um encontro de amigos que se reuniam no Rainbow Bar & Grill, na Sunset Strip. Com o intuito de beber e jogar conversa fora, o grupo contava com nomes como Alice Cooper, Keith Moon, Ringo Starr, John Lennon, Micky Dolenz, Jim Morrisson e alguns convidados que apareciam vez ou outra, como Elton John por exemplo. “Para se juntar ao clube, o candidato tinha que beber mais do que todos os membros do grupo”, disse Alice Cooper em entrevista recente. E completou: “Todas as noites nós acabávamos bebendo até o sol nascer, por isso nos chamavam de vampiros, a diferença era que bebíamos álcool e não sangue”.
Quase quatro décadas depois e com a maioria dos seus integrantes vivendo em algum lugar longe da terra, o Hollywood Vampires vê a luz do dia novamente, dessa vez como um supergrupo. Se o trio já não estava interessante o suficiente, o disco ainda conta com participações de peso como Dave Grohl, Slash, Paul Mccartney, Joe Wash, Kip Winger, Orianthi, Brian Johnson e diversos outros. Produzido por Bob Ezrin (Alice Cooper, Kiss, Pink Floyd, Nine Inch Nails), o autointitulado álbum conta com 14 faixas em sua versão simples e 15 na versão japonesa.
Introduzindo o tributo, temos a narrativa “The Last Vampire”, o último trabalho feito pelo ator e cantor Christopher Lee, morto em junho. Como não podia ser diferente, a faixa tem um tom sombrio e conta a história de um encontro com um misterioso homem que fez um pedido, para que escutemos as “crianças da noite” e a música que fazem, que assim seja. Após o prelúdio narrativo, temos “Raise The Dead”, uma das únicas faixas autorais (o disco conta com apenas duas) de “Hollywood Vampires”. Com uma pegada hard rock setentista, que consagrou Alice Cooper, a música (escrita por Alice e Johnny Depp) conta com um riff bem bacana, além daquela “pitada de terror” que todas as músicas do vocalista sempre tiveram. Um dos melhores momentos do álbum, a faixa ainda deixa clara a ideia de homenagear os antigos amigos em sua letra: “A alma do rock foi enterrada em um buraco/Mas a música permanece viva/Vamos ressuscitar os mortos”.
Dando sequência ao álbum temos a enorme lista de versões de outras bandas, mas o destaque ficou por conta de três delas. Alice Cooper já havia gravado uma versão de “I Got a Line on You” (Spirit) em 1988 para a trilha sonora do filme “Iron Eagle II”, mas essa daqui soa diferente. Muito mais puxada para a versão original, o tributo conta com as participações especiais de Perry Farrel (Jane’s Addiction), Kip Winger (Winger) e Joe Walsh (Eagles), além dos backing vocals de Tommy Henriksen (Alice Cooper). Sem fugir muito da ideia central da música, temos nela um hard rock animado e festivo, digno da patifaria oitentista que todos já conhecemos.
A faixa citada pode não ter sido uma grande surpresa, já que a versão quase que seguiu a original, mas em “Whole Lotta Love” a história muda bastante. Com uma introdução praticamente irreconhecível, um dos maiores clássicos do Led Zeppelin ganhou uma roupagem bem diferente, com direito a cinco guitarras, com Joe Walsh, Johnny Depp, Orianthi, Tommy Henriksen e Bruce Witkin, e até mesmo uma gaita assoprada por Alice Cooper. Uma versão mais suja e com bastante peso, que ainda conta com os vocais rasgados de Brian Johnson, soando como fazia na década de 1970. Por fim, a terceira versão de destaque é a dobradinha “School’s Out/Another Brick In The Wall – Pt. 2”. A versão do clássico de Alice Cooper permanece quase que intocável, mas ai vem a grande surpresa: mais uma participação de Brian Johnson. Aparecendo no segundo verso, o vocalista encaixou perfeitamente na música, soando mais uma vez de uma maneira que não esperávamos que ainda conseguisse. Já na parte do Pink Floyd, o peso e a agressividade é o que diferencia o clássico do “The Wall”.
A outra faixa autoral do álbum é “My Dead Drunk Friends”, a saideira do disco. Um hard rock com influências fortíssimas do blues, a música fecha com chave de ouro a celebração proposta no disco, sendo mais um dos grandes momentos de “Hollywood Vampires”. “Vamos beber mais uma em homenagem à todos os meus irmãos, que beberam até morrer”, é o refrão cantado por Alice Cooper, na faixa que deve ter agradado, praticamente, todos os fãs que acompanham desde os primórdios de sua carreira musical sombria. O álbum ainda conta com versões de músicas de Jimi Hendrix, Badfinger, The Doors, The Who, entre outros.
Se a ideia central do projeto era prestar um tributo e celebrar os seus “amigos de álcool”, o trio liderado por Alice Cooper conseguiu essa façanha com extrema maestria. Um disco animado e de grande qualidade, que conseguiu recriar alguns dos maiores clássicos da década de 1970. Talvez o ponto que deixe a desejar seja a presença de apenas duas músicas autorais, deixando no ouvinte aquela vontade de quero mais, tendo em vista que ambas são sensacionais. Vale destacar ainda a atuação de Johnny Depp, que mostrou grande competência com a guitarra nas mãos, tanto em suas bases ou riffs. Trabalho mais do que indicado para quem curte um rock sujo, direto e sem frescuras.