Festival NOS Alive em Portugal promove maratona de shows
Portugal entrou na rota dos grandes festivais europeus e o grande responsável disso foi o NOS Alive. O festival comemorou seu décimo aniversário com um lineup arrebatador. Foram três dias de festa em cinco palcos e muito calor.
Por conta dos preços exorbitantes de festivais como o Glastonbury e Roskilde, grande parte dos ingleses e europeus optaram pelo NOS Alive. O evento tinha entradas por 150 euros para os três dias, algo como 600 reais. Se for comparar os preços de festivais no Brasil e o lineup, o valor fica bem abaixo do que costumamos pagar. A organização é perfeita, não existe qualquer tipo de desconforto. Claro que as vezes você corre o risco de esbarrar em um grupo de ingleses bêbados, mas que só querem curtir mesmo a festa. A primeira noite do festival ocorreu na quinta-feira (07), e teve como headliner, ou como eles dizem aqui, os cabeças de cartaz The Chemical Brothers, Pixies, Robert Plant, Biffy Clyro e The 1975.
Os Pixies fizeram um show gigante com 29 músicas e incluíram uma cover para “Head On”, dos Jesus and Mary Chain. Robert Plant fez o mesmo show cansado e chato que ninguém mais aguenta ver, exceto os fãs incontestáveis do Led Zeppelin. Acho que ele só estava no lineup para encher linguiça. Biffy Clyro atraiu grande parte dos jovens que vieram ver o novo trabalho, “Ellipsis”, e seu front Simon Neil. Fechando a noite, Tom Rowlands e Ed Simons, dos Chemical Brothers, destruíram com grande estilo a pista. Logo após a cover “Tomorrow Never Knows”, do Junior Parker, foi a vez do hit “Hey Boy, Hey Girl”, que colocou abaixo o Passeio Marítimo de Algés. No set estavam músicas bem remixadas de toda a carreira do duo que não fizeram por menos e fecharam a primeira noite com “Block Rockin’ Beats”, nessa primeira noite bem-sucedida do festival.
Na sexta-feira (08), foi uma das datas que teve os tickets esgotados em pouquíssimos dias. Encabeçavam o cartaz os seguintes nomes: Radiohead, Tame Impala, Foals, Hot Chip, Two Door Cinema Club. Antes mesmo das atrações principais do dia mais esperado, houve um dos melhores shows do festival: a voz rouca grunge de Melbourne Courtney Barnett, que levou seu indie deboche em onze canções que fizeram o palco Heineken ecoar com milhares de pessoas cantado junto. Ouso dizer que “Nobody Really Cares If You Don’t Go to the Party” soou irônica, pois todo mundo sabia a letra e cantou até a voz acabar, dando sim importância à grande festa da rapariga.
Do outro lado, os Foals também apresentavam o seu mais recente trabalho “What Went Down” e não fez por menos. Yannis e seu grupo tocaram o terror em canções como “My Number”, “Mountain At My Gates” e “Inhaler”. A banda, que foi headliner em quase todos os festivais europeus, estava ali no fim da tarde abrindo alas para o Tame Impala.
Já assisti o Tame Impala umas três vezes e não achava novidade alguma aquela psicodelia toda que o grupo faz, mas acho que vendem bem e a galera que vai em festival, vai contando com isso. Foi realmente uma pena que a música “Eventually” tenha ficado de fora do setlist, mas os fãs foram compensados com “Feels Like We Only Go Backwards”, a qual uma chuva de confetes explodiu na pista do palco principal. Já eram quase 23h quando os reis de Oxford subiram ao palco. O Radiohead, com Thom Yorke de cabelos amarrados e o palco com luz em vermelho, iniciou os trabalhos com “Burn The Witch”, primeiro single do recente álbum “A Moon Shaped Pool”. O grupo seguiu o concerto com mais quatro músicas desse disco até tocar “My Iron Lung”, do grandioso “The Bends”.
Acredito que muita gente foi achando que o Radiohead era daquelas bandas que se preocupam em agradar com hits, o que ocorreu exatamente o contrário. Com 17 canções executadas na primeira parte do setlist, só quem era muito fã cantava, pois a estrutura estava toda em trabalhos mais obscuros dos discos anteriores, exceto em “Idioteque”. Os olhares ficaram mais para o designer do palco, com o absoluto clima intimista da banda, o que não deixou de ser maravilhoso. Cada música, cada detalhe, cada acorde era muito bem acompanhado em sincronismo e alegria.
No entanto, a segunda parte veio com uma sequência de hits: “Paranoid Android”, “2+2=5” e “There There”, arrancando assim um coro da multidão que permaneceu calada em grande parte do show. A banda se despediu do palco e devido aos muitos aplausos, os músicos voltaram. Como já era previsto, tocaram o sucesso “Creep”, arrancando assim o coro uníssono. Não satisfeito, Thom Yorke voltou para uma reprise e entregou a fabulosa “Karma Police”, acabando de vez com as cordas vocais do NOS Alive. Ao fim da canção, ficou sozinho no palco puxando o coro apenas com o violão. O que dizer além de que foi o melhor show da noite? Mas não acabou por aí.
Do outro lado, o Two Door Cinema Club sacudiu o palco Heineken para os remanescentes que não eram poucos. com um setlist de 19 canções, misturando os dois discos “Tourist History” e “Beacon”. O grupo também apresentou músicas do próximo disco, “Gameshow”, que sai em 14 de outubro desse ano. Já não existia mais energia para permanecer no festival e ainda tinha o último show da noite: os britânicos do Hot Chip, que tocaram para um público cansado. Porém, ainda tinha energia para fritar em uma rave que só eles sabem fazer. Entre as canções, destaque para a cover de “Erotic City”, de Prince, e “Dancing in The Dark”, de Bruce Springsteen. Era por volta de 4 horas da manhã quando uma multidão começou a deixar o festival. Acho que esse foi o único ponto negativo, colocar muitas bandas em um único dia, deixando lacunas nos outros, mas mesmo assim ainda foi perfeito. Em se tratando de maratona de festival, é preciso sair tarde, dormir pouco, pois no outro dia tudo começa de novo.
No último dia do festival, já era possível notar o rosto exausto dos festeiros, mas ainda assim com pura energia para mais 11 horas de evento. Sendo assim, os trabalhos iniciaram um pouco mais leve com o som indiano dos portugueses do Jiboia. Na sequência, no Palco Heineken, o sueco de família Latina Jose Gonzalez tocou seu folk elaborado com um setlist recheado de covers inusitados como “Hand on Your Heart”, da australiana Kylie Minogue, “This Is How We Walk on the Moon”, de Arthur Russell, “Teardrop”, do Massive Attack, e “Heartbeat”, dos também suecos The Knife. Mais à frente do palco principal, o Band of Horses, os últimos filhos de Seattle apresentava seu rock alternative depressive. O setlist foi curto contando apenas com sete canções, mas todas elas em suas versões estendida. Kieran Hebden conhecido pelos remixes do seu projeto Four Tet fez um excelente DJ set enquanto o palco principal recebia o nome mais esperado da noite: os canadenses (ou canadianos como cá eles dizem) do Arcade Fire. Sem material novo, a banda intercalou sucessos dos quarto discos, dando ênfase ao “Reflektor”.
Costumo dizer que mesmo sendo ruim, sempre vai ser bom, não tem como não se deixar levar por músicas como “We Exist”, “No Cars Go” e “Rebellion (Lies)”. Eles fizeram todo mundo cantar; Win Butter, mesmo cansado da noitada anterior, onde fez um DJ set do seu projeto Windows98, esbanjou energia acompanhado da voz de Régine Chassagne. O que se viu foi uma entrega total de cada um da banda e, para minha surpresa, eles foram o segundo melhor show da noite, pois eu não imaginava que a outra canadense Grimes seria absurdamente tão incrível. Claire Elises fritou no palco Heineken com suas dançarinas e fez todo mundo enlouquecer junto com elas. Logo na abertura, enfiou “Realiti”, com uma versão bem diferente do disco “Venus Fly e Go”. Isso não era nem 10% do que a menina entregou. “Be a Body” foi sensacional, mas “Genesis” foi o ápice, mesmo quem não conhecia a moça se jogou e fez rodas de pogo. O bate cabeça comeu solto e não ficou só por aí, foi uma pancada seguida de outra. “Scream” veio sensual e, para exorcizar, ela ainda meteu uma cover electro clash de “Ave Maria”, servindo de intro para “Oblivion”, que massacrou de vez os restos dos que sobraram. Aquilo sim foi sensacional, mesmo gastando os poucos hits logo de cara, Kill v. Maim encerrou o inferno eletrônico da Grimes e todas as poucas energias que sobraram. Ao mesmo tempo que o festival chegava ao fim, os M83 fizeram um show fraco e quase apagado, pois só se salvaram os hits.
Apesar de pequeno, o NOS Alive é acolhedor e bem grande de coração. Cerca de 88 tipos de nacionalidades passaram por lá, mais de 30 mil ingressos foram vendidos para estrangeiros. O festival é pontual, os preços são justos tanto para os ingressos, quanto para os comes e bebes. A segurança é perfeita e qualidade de som é espetacular. Para o ano que vem, os organizadores já revelaram a data: 06, 07 e 08 de julho. Nos vemos por lá!