Depeche Mode – Spirit (Columbia Records)
Nota: 8,5
Aparentemente mais preocupados com o rumo esquisito que a humanidade vem tomando, do que com seus conflitos internos e questões pessoais, os britânicos do Depeche Mode acabam de liberar para todas as plataformas de streaming seu 14º trabalho de estúdio, “Spirit”, que deve chegar às lojas brasileiras até o final de março. Depois de quase quatro anos sem um álbum de inéditas – o último foi o bastante elogiado “Delta Machine”, de 2013 – um novo disco vinha sendo aguardado com ansiedade. E valeu a pena esperar.
O álbum, puxado pelo single “Where’s The Revolution?”, uma clara crítica ao recém-eleito governo norte-americano de Donal Trump e ao Brexit, traz 12 faixas densas e sua versão deluxe conta ainda com mais cinco bônus. Há uma combinação bem equilibrada entre o clima soturno e um tanto depressivo, característica sempre presente nos discos da banda. Como a bela “The Worst Crime”, com uma sonoridade que busca suas raízes lá na década de 1980 e as traz.para o século XXI, como “Scum” e “You Move”.
Um dos responsáveis por essa atemporalidade sonora é o produtor James Ford, que já trabalhou com nomes como Arctic Monkeys, Florence And The Machine e The Last Shadow Puppets. A tarefa pode não ser das mais simples quando se trata de uma banda com mais de 30 anos de estrada, mas, que nem por isso, se acomodou em momento algum, optando por não viver das glórias do próprio passado.
Em grande parte das letras, Martin Gore deixa óbvio um sentimento de inquietação e falta de perspectiva quanto a um futuro trazendo dias melhores para um mundo social e politicamente doente. O trabalho dá continuidade à temática que começou a ser explorada em “Delta Machine”, porém, dessa vez, se apresenta de maneira mais uniforme. As faixas seguem uma seqüência que faz sentido e remete à reflexão.
Abrindo o álbum, “Going Backwards” já entra de sola e não dá refresco para ninguém quando Dave Gaham compara o homem de hoje ao das cavernas. A canção é adornada por riffs sufocantes e já avisa que se o que você quer ouvir é música para se divertir, melhor abandonar o barco enquanto é tempo. Em seguida, “Where’s The Revolution” e seus sintetizadores tão característicos do trio, só colocam mais lenha na fogueira.
Ainda falando sobre o mergulho sempre bem-vindo na música eletrônica, “Poor Man” é exemplo de como os sintetizadores podem criar uma atmosfera hipnotizante e pesada. A faixa traz um solo que se arrasta por longos minutos, misturando texturas e criando sonoridades.
Ao contrário do que faziam nos anos 80, não há nada muito dançante por aqui. “Scum”, cuja letra é uma das mais ácidas, cheia de ironia e sarcasmo, é um dos poucos destaques nesse sentido. Amenizando um pouco o clima pesado, temos “Cover Me” e “So Much Love”, indicando que, apesar dos pesares, o grupo ainda sabe falar de amor.
Para o lançamento de “Spirit”, teve até pocket show em Berlin, com transmissão ao vivo pela internet. A banda já anunciou sua “Global Spirit Tour”, turnê mundial começando em maio, pela Europa, onde passará por 21 países. A América do Sul também está nos planos do grupo para o próximo ano. Vamos ver se realmente Gaham e companhia darão uma passadinha pelo Brasil. A última vez em que estiveram por aqui foi em 1994, com apresentações apenas em São Paulo.
Ouça a seguir o álbum “Spirit”.