Def Leppard – Def Leppard (Ear Music)
Nota 7,5
Sete anos após o lançamento do “Songs From the Sparkle Lounge” e dessa vez sem o apoio da gravadora Mercury Records, o Def Leppard, uma das bandas britânicas de maior sucesso da história, lançou na última sexta-feira, 30, o seu décimo e novo autointitulado trabalho.
Indo direto ao ponto, o Def Leppard não lançou nada de relevante, ou que não seja ao mínimo desastroso, desde o “Adrenalize” (1992). Me arrisco a dizer que os álbuns “Slang” e “X” lançados em 1996 e 2002, respectivamente, são dois dos lançamentos mais terríveis da história do rock, brigando lado a lado com alguns desastres da época como o “Shadowlife”, do Dokken (JESUS!!!!), ou até mesmo com o “St. Anger”, do Metallica. Seria muita bondade a minha dizer que desde então, nesses 23 anos, o grupo alternou altos e baixos, quando na verdade a banda errou muito mais (e coloca muito nisso), do que acertou. Óbvio que aqui estamos falando de lançamentos. Em cima do palco, a história é outra.
Voltando ao foco, desde que a banda mencionou pela primeira vez o novo trabalho, em fevereiro de 2014, alguns fatos e declarações foram de chamar a atenção. Uma delas, onde Phil Collen disse que esse seria o melhor álbum do grupo desde o “Hysteria” (1987), soou até duvidável, tendo em vista que diversas vezes músicos e bandas usam desse papinho de sempre. A outra aconteceu em uma explicação de Joe Elliot para a revista Rolling Stone, quando o vocalista foi perguntado o porquê o disco levaria o nome do grupo, dando a seguinte declaração: “Bom, o disco soa como Def Leppard”. É óbvio que as expectativas de qualquer fã começaram a crescer, me arrisco a soar clichê, mas até mesmo a bela arte da capa do disco, com o logo rebatendo sobre o vidro quebrado, nos remete ao período mais clássico do grupo.
Depois de alguns meses de especulações e boatos, o álbum foi finalmente lançado mundialmente. Como os ingleses não são adeptos aos serviços de streaming musical, a única opção foi a obtenção do disco físico (claro, não para a galera do download ilegal). Se a primeira impressão é a que fica, confesso que a primeira escuta chegou a ser decepcionante e que demorou quase uma semana pra conseguir digerir e começar a aceitar alguns aspectos do álbum. A banda soa como Def Leppard, como disse Joe Elliot? Sim, realmente. O álbum é o melhor desde o “Hysteria”, assim como disse Phil? Talvez, temos o “Adrenalize” nesse meio tempo, mas tirando isso a banda só lançou bomba e isso não serve de parâmetro pra nada.
Iniciando o disco com o já então divulgado single “Let’s Go”, uma faixa do baixista Rick Savage, a banda apresenta um som que realmente remete aos clássicos da década de 1980. Com o famoso “refrão de arena”, riffs de guitarra robustos e a sempre trabalhada harmonia vocal da banda, a música chega a soar como “Pour Some Sugar on Me” em certos momentos. “Dangerous”, a segunda faixa do álbum, é de fazer qualquer fã da banda tirar o chapéu. Com uma vaga garantida em uma coletânea de clássicos e outra no repertório do grupo, o hit soa como uma mistura de “Photograph” com “Armageddon It”, sendo assim uma evolução da faixa introdutória do trabalho. “Def Leppard” tem um começo impressionante, não tinha como ser melhor. Mas é isso. Da terceira faixa adiante, parece que estamos ouvindo a um “catadão” da discografia do grupo, com momentos legais (e nada além disso) e outros, em grande maioria, bem decepcionantes.
A terceira faixa, “Man Enough”, vai remeter grande maioria dos ouvintes do álbum ao “Slang”. Confesso que gostaria de ter visto a minha cara quando escutei os primeiros 30 segundos da música, provavelmente foi uma mistura de decepção com desprezo, não era possível que o álbum que havia começado tão bem teria em seguida uma música tão pavorosa como essa. Alguns dias depois, analiso a faixa de outra maneira. O groove dançante do baixo de Rick pode ter soado estranho em um primeiro momento, mas em seguida ficou a impressão de “não era o que eu esperava, mas até que é legal”.
Como não poderia ser diferente, a banda que conta com músicas como “Love Bites”, “Have You Ever Needed Someone So Bad” e “Too Late for Love”, não iria deixar as clássicas baladinhas de fora. “We Belong”, além de ser um forte apelo ao álbum “Hysteria”, conta com os vocais dos cinco integrantes do grupo. Se tem algo que não podemos criticar no Def Leppard é a capacidade que a banda sempre possuiu em escrever ótimas baladas, sempre com um som melancólico e letras bem trabalhadas, aqui tivemos mais um acerto. A fraquíssima letra de “Invincible”, somada ao seu instrumental morto que mais parece uma das “inescutáveis” músicas do álbum mais recente do Bon Jovi, não acrescenta nada de interessante ao disco.
“Sea Of Love” não traz a pegada clássica do Leppard, mas é uma das músicas que mais agradaram. Com uma pegada setentista, backing vocals bem harmonizados e um refrão que gruda na cabeça logo na primeira escuta, a banda mostra perfeita sincronia em um dos momentos mais divertidos do disco. Partindo de um extremo para o outro, “Energized” (que mais parece uma música do “X”) por sua vez é bem fraca. Um pop rock morno, que adicionado a um arranjo de dar sono e alguns elementos mais modernos, torna a sétima faixa o pior momento de “Def Leppard”. Dividindo os extremos, “All Time High” e “Broken ‘N’ Brokenhearted” não desapontam, mas também não chegam a ser petardos certeiros. Em alguns momentos, parecem que vão soar como algo que se encaixaria no “Hysteria”, mas como o próprio Joe Elliot disse, a ideia da banda não é de ser um tributo ao seu próprio legado.
O acústico psicodélico de “Battle Of My Own” possui uma vibe meio “Led Zeppellin III”, uma faixa até que bem bacana, mas que quando parece que finalmente vai engrenar, termina. Mais uma vez querendo soar moderno e até mesmo industrial em alguns detalhes, a banda vem com “Forever Young”, que não se destaca em nada além dos duetos de guitarra de Phil Collen e Vivian Campbell. “Last Dance” traz mais uma vez a competência da banda em acertar em cheio na hora de escrever baladas, dessa vez com Joe cantando sobre tempos que ja passaram. Com uma mistura ao ponto de modernidade e nostalgia, “Wings Of An Angel” além de tudo conta com um magnífico solo de Vivian. Por fim e encerrando o disco dos leopardos, o andamento melancólico e progressivo de “Blind Faith” soa em alguns momentos como uma faixa evoluída de um som dos Beatles com uma pegada Zeppeliniana.
“Def Leppard” (2015) é um álbum que assim como a carreira da banda, alterna altos e baixos. Se você estava esperando por um álbum clássico e que remetesse ao som dos anos de ouro do grupo, em um primeiro momento provavelmente o disco vai soar decepcionante. Normal, as expectativas aqui por um disco que acompanhasse a linha das duas previamente divulgadas músicas, “Let’s Go” e “Dangerous”, eram altíssimas. Aceitando o fato de que o grupo não tentou soar como um cover de si mesmo, o álbum começa a fluir mais naturalmente, soando não como “Pyromania” ou “Hysteria”, mas sim como Def Leppard em geral. Um disco bem sólido, que enaltece o mérito do grupo em compor belíssimas músicas. Oremos para que o Def Leppard finalmente volte para o Brasil em 2016 e apague aquela memória do trágico show com menos de 300 pessoas no Rio de Janeiro, em 1997.