Dado Villa-Lobos e André Frateschi falam sobre a turnê ‘Legião Urbana – 30 anos’
“Acho que a Legião Urbana está no DNA da minha geração. Posso dizer que faz parte da minha formação como ser humano. As letras e tudo o que elas representavam, ajudaram a formar o caráter de quem era adolescente, no início da década de 1980, e cresceu junto com a banda”. É assim que o ator e cantor André Frateschi define sua relação com a banda liderada por Renato Russo. Ele foi escolhido pelo guitarrista Dado Villa-Lobos e pelo baterista Marcelo Bonfá, para assumir o microfone no lugar de Renato durante a turnê que comemora os 30 anos do lançamento do álbum de estreia da Legião Urbana.
Mas que ninguém se engane: a intenção não é substituir o vocalista, até porque, segundo André, ele é insubstituível. “Desde que recebi o convite, tive a certeza de que não queria fazer nada parecido com um cover do Renato”, lembra. “O que faço é dar a minha interpretação para as músicas, da maneira que eu as sinto”. André conta que no início, teve muita expectativa sobre qual seria a reação do público e das pessoas que conheciam o carismático líder da Legião. “Mas aos poucos, fui ficando à vontade e tenho sido muito bem recebido pelos fãs. Existem pessoas que são insubstituíveis e que vieram com uma missão. O que tenho em comum com o Renato é uma devoção pela música e pelo rock”.
A turnê que começou em outubro de 2015, em Santos, já contou com 18 shows e chega neste sábado (23) ao Metropolitan, no Rio de Janeiro, cidade de onde o então quarteto de Brasília estourou para o resto do país. E os cariocas vão contar ainda com a presença ilustre dos Paralamas do Sucesso, banda conterrânea da Legião, com quem Dado e Bonfá já dividiram o palco várias vezes.
Depois de quase 20 anos da morte de Renato Russo, em outubro de 1996, Dado e Bonfá retornam aos palcos para uma celebração com o público. Segundo eles, não se trata de uma volta da Legião – porque a banda acabou com a morte do vocalista – mas de um reencontro com os fãs.
No repertório, a íntegra do disco de estreia, “Legião Urbana”, lançando em 1985, trazendo alguns dos maiores clássicos do grupo, como “Será”, “Geração Coca-Cola”, “Soldados” e “Ainda é Cedo”. Em uma segunda parte, os sucessos que marcaram os 15 anos de estrada. “Tempo Perdido”, do álbum “Dois”, de 1986, a atualíssima “Que País é Esse?”, do disco homônimo, do ano seguinte, e “Pais e Filhos”, de “Quatro Estações”, de 1989, são presenças garantidas.
“Está intensamente incrível perceber que o repertório ainda move multidões”, festeja Dado. O guitarrista ressalta que a apresentação carioca vai trazer de volta um pouco do clima do primeiro show do grupo realizado no Rio, no Circo Voador, no longínquo ano de 1983. Segundo ele, a atmosfera é a mesma e até o cenário remete àquela época.
Um reencontro 30 anos depois
Quando surgiu a ideia da turnê, Dado e Bonfá ainda não tinham certeza do que queriam fazer quanto aos vocais. Sabiam apenas que queriam algo diferente e que não tivesse nada a ver com um cover de Renato Russo. A ideia de convidar André Frateschi surgiu depois de um reencontro em que ele e o guitarrista “legionário” participaram de um projeto promovido pelo Banco do Brasil, em 2013, chamado BB Covers, em que formaram, junto com outros músicos como João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, uma banda para tocar Beatles.
“Conhecemos o André em 1985 na tournée desse primeiro disco quando encerrávamos as apresentações da peça ‘Feliz Ano Velho’, de Marcelo Rubens Paiva. A mãe do André, Denise Del Vecchio representava a mãe do Marcelo na peça e carregava o André, então com seus 11 anos de idade, pelos camarins desse Brasil”, lembra o guitarrista.
O cantor também tem boas recordações desse período. “Assisti pela primeira vez a um show deles nessa época, em um ginásio, em Brasília. Fiquei louco. Já sabia o que queria fazer da vida e aquilo só reafirmou o que eu já sabia”, lembra. “Depois disso, fui a uma apresentação da banda em São Paulo em que levei flores pro Renato e ele comeu as flores, jogou na plateia. Achei que ele havia detestado meu presente mas aquele, na verdade, foi meu primeiro contato real com o que é arte”.
No ano seguinte, a Legião Urbana estourou com o primeiro álbum e eles perderam contato por mais de 20 anos. “Quando o Dado me ligou, em 2015, me falando da ideia da turnê, achei muito bacana, mas fiquei petrificado quando entendi que estava sendo convidado para cantar com eles”. André conta que o medo de não ser bem aceito pelas pessoas deu lugar a uma sensação boa depois que se apresentaram em um evento para convidados, em setembro daquele mesmo ano, onde estavam presentes a família e amigos de Renato Russo e da banda. “Não sabia quem estaria assistindo e foi maravilhoso quando ouvi de uma dessas pessoas que o melhor de tudo era que eu não estava tentando imitá-lo”.
Tatiana Tavares é jornalista e autora do livro “A Juventude e o Brasil de Renato Russo”