Angra revela curiosidades sobre o novo álbum ‘Ømni’
Fotos: Bárbara Martins
O Angra lançou neste mês de fevereiro o novo álbum “Ømni”, o 9º trabalho de estúdio. Gravado na Suécia, o disco conta com a produção de Jens Bogren. A banda aproveitou o período do carnaval para receber a imprensa em São Paulo e conversar sobre o álbum. Todos os presentes, incluindo os fãs que compraram o pacote especial na pré-venda do disco, tiveram a oportunidade de ouvir “Ømni” na íntegra.
Após todos os membros da banda darem boas-vindas aos presentes, foi Raphael Bittencourt que puxou o discurso para si. Claramente emocionado, o músico agradeceu a todos que sempre apoiaram o Angra, independente do momento, e fez uma pequena comparação entre as fases do grupo com a dialética grega. “Tese”, um momento de auto afirmação inicial, aconteceu com o início da banda, ainda na década de 1990, com André Matos. A “antítese”, momento de oposição a situação inicialmente criada, veio a seguir, com Edu Falaschi. Finalmente, o guitarrista comparou o momento atual do Angra com a “síntese”, uma situação nova, que carrega dentro de si elementos resultantes do embate inicial. “É disso que ‘Ømni’ se trata. A palavra, que quer dizer ‘tudo’ em latim, envolve o momento que vivemos. Tudo que passamos e tudo que somos hoje, toda essa união. Não devemos olhar para o passado, mas sim tirar lições de como tratar o presente e o futuro. Com vocês, ‘Ømni'”, declarou o guitarrista, abrindo a audição do trabalho, que aconteceu faixa por faixa, seguidas sempre por comentários de algum dos integrantes.
A faixa de abertura do disco, “Light of Transcendence”, já havia sido executada no início do ano por uma rádio japonesa e posteriormente colocada na internet. Muito bem aclamada pelos fãs, a música é uma mistura do power e speed metal característico do Angra. Também com elementos sinfônicos e orquestrais, para Lione, é a canção que mais se conecta com o passado da banda. Um pontapé inicial perfeito. Concluindo a dobradinha inicial, temos “Travelers of Time”, também já divulgada, nos formatos de áudio e videoclipe. Ainda sem fugir de suas raízes, a introdução com elementos da música nordestina nos remete bastante ao “Holy Land”. Com um refrão grudento e os característicos pedais duplos do grupo, a canção talvez seja a de mais fácil absorção do álbum. Para o guitarrista Marcelo Barbosa, é uma faixa que, assim como a primeira, também contempla todas as facetas do Angra. “Depois da melodia estar pronta, o Rapha me disse: ‘Quero uma guitarra rápida’. O que é uma guitarra rápida?'”, riu o guitarrista. “Nas sessões de gravações, ela era apelidada como ‘Speed Barbosa'”, concluiu.
Uma das grandes incógnitas do álbum e motivo de curiosidade por parte dos fãs, seria a tal “faixa da Sandy”. Ainda mais tendo em vista que foi divulgado que a canção teria a participação não só de Sandy, mas também de Alissa White-Gluz, vocalista do Arch Enemy e com uma linha vocal que contrasta totalmente com a da brasileira. “Black Widow’s Web”, no entanto, se trata totalmente disso. A ideia da banda foi a de mostrar as duas faces da “viúva-negra”. Sandy, introduzindo a faixa, demonstra uma leveza incrível em sua voz. Já Alissa traz o seu lado agressivo, utilizando vocais guturais. Em um meio termo, temos Lione muito mais solto do que no álbum anterior, “Secret Garden”, e um instrumental moderno e pesado, dessa vez fugindo das raízes da banda.
Felipe Andreoli explicou o surgimento da faixa: “‘Black Widow’s Web’ surgiu em janeiro de 2017, no 7000 Tons of Metal, quando todos nós da banda ficamos boquiabertos ao assistir um show do Arch Enemy”. Lione então entrou em contato com Alissa e tiveram que conciliar as datas com as de turnê do grupo sueco. Já o contato com Sandy, veio por meio de uma sugestão de amigos próximos. Além da leveza de sua voz doce, todos concordaram que seria um ótimo marketing para a divulgação do disco. Lione, no entanto, nos confessou que não conhecia a cantora. “Talvez um pouco por nome. Mas nem chegamos a nos encontrar, ela gravou sua linha e nos enviou”, contou o vocalista com exclusividade ao site.
“Insania”, quarta faixa do disco, trata sobre o limite da sanidade humana. Com um dueto incrível de baixo e bateria, Valverde e Andreolli trataram da faixa como sendo uma homenagem ao Rush. Mais puxada para uma sonoridade do Angra atual, foi Raphael quem trouxe a ideia do refrão. Lione, também conhecido entre eles como “o mago das melodias”, facilmente trouxe algo que penetrasse na cabeça dos ouvintes. Um videoclipe para a faixa já foi inclusive gravado em São Paulo, que conta também com participações de Alírio Netto. “The Bottom of My Soul” é uma belíssima balada que conta com os vocais de Bittencourt. “Uma ideia que já nasceu pronta”, explicou o guitarrista. “A letra é bastante pessoal e quando eu entro no processo criativo, eu realmente mergulho em um estado quase esquizofrênico. Se a alma voa muito alto, ela também voa muito baixo, e muitas vezes eu me desgasto e sofro. A música veio como um desabafo, o fundo do poço da minha alma, de onde eu pude olhar para cima e falar que então era a hora de reconstruir”, concluiu.
“War Horns”, com clipe recém divulgado, a princípio não entraria no álbum. Por ironia do destino, o Angra acabou se apresentando em uma cidade no mesmo dia que o Megadeth esteve por lá, proporcionando um encontro entre a banda e Kiko Loureiro. Convidado para participar do álbum, o músico ouviu algumas das faixas que estavam apenas como “rascunho”. A princípio Kiko achou que “War Horns” estava “uma bosta”, como contou Barbosa, então ele e Raphael sugeriram algumas mudanças de tom, finalmente chegando a um consenso com Loureiro. Gravando suas linhas de guitarra com o auxílio de Dave na mixagem, o guitarrista fez então com que a faixa não só entrasse para o disco mas também virasse uma das principais do mesmo. Com um instrumental pesado e um pouco progressivo, aqui Lione se encontrou e pode usar de seus atributos vocais para ser um dos destaques da faixa. Um instrumental a cara do Angra, com linhas vocais na zona de conforto de Fábio.
“Caveman”, sétima faixa do álbum, possui uma musicalidade bastante brasileira, devido a percussão nordestina que a acompanha. Segundo Lione, essa é a faixa mais próxima do Holy Land que temos no disco, contando também com trecho cantado em português, por Bittencourt. O vocalista ainda comentou sobre a importância de contar com faixas desse tipo no álbum, pela representatividade da música regional brasileira fora do país. Com uma personalidade forte, “Caveman” possui de tudo para conquistar os ouvintes com sua letra nativa. “Magic Mirror”, faixa que transita entre diferentes estilos e conta com diferentes partes, surgiu a partir de um trecho de piano. Para Andreolli, esse foi o trabalho mais colaborativo do disco. “Sintetizando diferentes ideias, de todos nós, a faixa realmente nos fez soar como uma banda”, declarou. Além disso, praticamente não foi usado bateria eletrônica no processo de composição, dando uma cara mais encorpada para o som de Valverde. Para Bittencourt, essa foi a letra mais difícil de sair, tratando sobre a dificuldade que temos em extrair algo de positivo sobre a visão negativa que as pessoas possam ter sobre nós mesmos.
“Always More”, é a faixa mais simples do disco. Crescendo aos poucos, a canção foi escrita na época do “Secret Garden”, e trata sobre o controle que devemos possuir do nosso egocentrismo, aceitando que algumas coisas estão aquém do nosso controle. Para Bittencourt, esse é o “cordão umbilical” de todo o conceito do trabalho, ligando os pontos e mostrando que sempre temos algo a aprender e nos surpreender. A música também já conta com um clipe pronto e logo será lançado. Na reta final, temos “Ømni – Silence Inside” e “Ømni – Infinite Nothing”. Essa primeira, tendo 8 minutos e sendo o trabalho mais longo do álbum, conta com diferentes partes conectadas entre si, com elementos espanhóis, latino e brasileiro. Uma das favoritas de Bruno, a canção foi trabalhada com Andreolli em cinco compassos. Já a derradeira do disco é um instrumental sinfônico e orquestrado, com um tom de “despedida”.
Ao término da audição, o produtor da banda, Paulo Baron, realizou um pequeno desabafo, pedindo para nós da imprensa nos orgulharmos e valorizarmos um pouco mais o trabalho do grupo, nos colocando um pouco em seus lugares e tudo que passaram, principalmente no sentido de mudanças.
Dando início a coletiva, tivemos a oportunidade de realizar duas perguntas ao grupo. A primeira, foi relacionada a temática e o conceito do álbum. Raphael Bittencourt respondeu: “A temática é a chegada, no Planeta Terra, entre nós, seres humanos, de um novo nível de consciência. Será algo inevitável, incontestável e que não será discutido, uma nova realidade. Conseguiremos cruzar nossa realidade com outras verdades, você terá acesso a diversas formas de pensamento. E acredito que isto já está acontecendo, com as pessoas descobrindo que a realidade transcende os limites que os seres humanos encontraram até, digamos, o ano passado. Isto gerará cruzamentos cognitivos. Criei uma história fictícia, com a junção de diversas crenças e conceitos. Uma ideia sobre a nova forma de comunicação e de pensar, que une todos os conceitos do Angra antigo e da fase nova era”, concluiu.
No segundo momento, questionamos a todos os membros do grupo se, depois de anos de estrada, eles ainda se sentem ansiosos com um novo lançamento, tanto em relação a oportunidade de mostrar seu trabalho para os outros, quanto a respeito de críticas e afins. Lione confessou ser bem tranquilo em relação a isso. “É uma coisa pessoal, como multi musicista, você sabe que tem que sempre chegar a outro nível. É isso que eu busco, um nível além do meu mais recente trabalho, e claro, sempre passando uma mensagem”, respondeu o vocalista. Já Andreolli confessou que sofre de “tensão pré-lançamento”. “Nunca se sabe como as pessoas vão receber o seu trabalho. Mas o feedback tem sido positivo, sinto um grande orgulho por isso”, concluiu.
Raphael por sua vez, comentou que esteve presente em todos os processos e lançamentos de álbuns do grupo e se sente tranquilo. “‘Temple of Shadows’ e ‘Holy Land’ receberam muitas críticas quando foram lançados, só viraram clássicos depois de passarem pelo teste do ‘tempo’, respondeu o guitarrista, que ainda concluiu que a energia que o álbum está passando, por conta do processo de gravação, sabia que “Ømni” se tornará um clássico. “Na verdade, as críticas estão bem simétricas. Ou as pessoas estão odiando, ou estão amando. Não vi ninguém achar um meio termo. E a maioria está amando”, concluiu.