Angra comemora os 20 anos de ‘Holy Land’ com belíssima festa em SP
Fotos: Angra/Lucas Vieira
O Angra se apresentou no Tom Brasil, em São Paulo, no último sábado (13), pela turnê comemorativa de 20 anos de seu segundo álbum, “Holy Land”. O nostálgico show, que contou com diversos convidados especiais e com a presença de duas baterias no palco, apresentou o álbum na íntegra, além de outros sucessos do grupo. A abertura do espetáculo ficou por conta de Bruno Sutter, que após um belo show e uma ótima recepção da plateia, desabafou: “Isso é muito importante pra mim, cansei de escutar que eu não sou nada além de uma piada para o heavy metal, obrigado”.
Com quase quarenta minutos de atraso, os telões da casa anunciaram que o show estava para começar. As luzes ao fundo se apagaram, deixando a claridade apenas na imensa cortina vermelha que cobria o palco, foi então que, uma criança inesperadamente surge segurando um microfone. Após alguns segundos de silêncio, talvez pela sua timidez, o menino se manifestou: “Boa noite São Paulo. Vocês gostam do Angra? Eu amo o Angra”. As cortinas se abriram, para a euforia da plateia, contando já com a presença de Bruno Valverde na bateria que se encontrava à direita do palco (na visão do público), os outros integrantes do Angra foram entrando um por vez.
“Newborn Me”, faixa de abertura do mais recente trabalho do grupo, “Secret Garden”, foi também a escolhida para introduzir o repertório. Além dos membros atuais da banda, sendo eles Fabio Lione, Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli, Marcelo Barbosa e Bruno Valverde, anteriormente citado, o palco contava com as presenças do tecladista Juninho Carelli e o percussionista Dedé Reis. A tríplice inicial ainda contou com “Waiting Silence”, do álbum “Temple of Shadows” (2004) e “Wings of Reality”, do “Fireworks” (1998). “Boa noite São Paulo, é com muita satisfação que estamos aqui hoje”, foram as primeiras palavras de Bittencourt ao público. “É isso ai, essa noite vocês sabem, vamos tocar o ‘Holy Land’ na integra”, completou Lione, antes de anunciar Ricardo Confessori, uma das presenças mais esperadas e a parte tão aguardada do show. O baterista subiu ao palco, ovacionado pelo público. Lione perguntou se a plateia sabia que faixa vinha a seguir.
“Holy Land” é um disco temático, fundamentado nas grandes navegações do século XVI e na colonização e descobrimento do Brasil. Com diferentes temas, suas letras abordam e retratam as dificuldades da navegação, as visões que os habitantes da época possuíam sobre o chamado novo mundo, a saudades que a Europa deixava nos tripulantes e as surpresas das grandes descobertas. Com um ar voltado para o Renascentismo, o maior diferencial do disco está na presença da musicalidade brasileira regional em suas composições, com instrumentos típicos de nossa cultura, diferenciando o álbum de outros do gênero, inclusive deixando o disco um pé à frente do também aclamado “Angels Cry” (1994), lançamento anterior do grupo.
Seguindo a ordem do disco, a rápida “Nothing to Say”, um dos maiores sucessos do Angra e que sempre garante a sua presença no repertório do grupo, foi a primeira a ser executada nessa parte comemorativa do show. Aqui, o grupo pecou em deixar de fora o instrumental introdutório do álbum, “Crossing”, composta originalmente por Giovanni Pierluigi da Palestrina, compositor italiano da época da Renascença. Tratando dos mistérios do mar, a belíssima “Silence and Distance” veio a seguir. Fabio apresentou à plateia Bruno Valverde e Ricardo Confessori, dizendo que eles iriam tocar juntos “a Carolina”, uma das faixas mais emblemáticas do grupo, segundo o vocalista.
“Carolina IV” e seus mais de dez minutos viriam a seguir. Antes disso, Ricardo, Bruno e Dedé fizeram uma longa introdução à faixa, um pouco diferente da gravada em estúdio, esbanjando toda a técnica dos três músicos. Não demorou muito e Felipe Andreoli apareceu ao palco saudando a Iemanjá nas primeiras palavras do coro música, coro essa cantando em português: “Salve, salve Iemanjá, salve Janaína e tudo o que se fez na água”. Sem nunca ter seu significado realmente destrinchado pelo grupo, a interpretação da faixa nos traz a algo que nunca chegou ao seu destino, provavelmente Carolina seja uma embarcação, que assim como em grandes navegações da época, se perderam no anonimato e na imensidão dos mares. Uma composição riquíssima, tanto no que se diz respeito a seu instrumental, que conta em uma de suas partes com um trecho tirado de Hermeto Pascoal, quanto como liricamente, “Carolina IV” foi cantada pelo público de ponta a ponta. Além da performance de Lione, que apesar de usar uma técnica diferente da usada por André Matos conseguia alcançar tranquilamente as notas mais altas, Carelli se destacava em seus três teclados, assim como Dedé Reis na percussão. “A próxima música é um emblema de quando nós realmente conseguimos trazer a cultura brasileira junto com o rock”, disse Bittencourt antes do Angra dar continuidade ao repertório.
“Holy Land”, que resume bem a proposta do disco, trazendo diferentes elementos da música brasileira e com diversas referências culturais, veio a seguir. “The Shaman”, faixa com mais peso do álbum, contando com uma narrativa que parece ser do próprio xamã, invocando espíritos da natureza, sucedeu a faixa-título, vale destacar aqui a presença do baixista Luis Mariutti, ovacionado pela plateia aos gritos de “Jesus, Jesus, Jesus…”. “Eu tiro meu chapéu pra esse cara”, disse Bittencourt para Mariutti, enquanto literalmente tirava o chapéu que estava em sua cabeça. Sem a presença de Lione, foi a vez de Bittencourt assumir os vocais com “Make Believe”, faixa que teve o seu clipe indicado ao MTV Video Music Awards, em 1997. “Z.I.T.O.” e “Deep Blue” fecharam a parte festiva do espetáculo.
Com alguns dos presentes se movimentando, talvez para sair um pouco do aperto já que a parte esperada do repertório já havia passado ou até mesmo para buscarem uma cervejinha e irem ao banheiro, o restante do show contou com faixas que marcaram diferentes épocas do grupo. “Final Light”, “Time” e “Storm Of Emotions” vieram a seguir, além das belíssimas interpretações acústicas de Rafael Bittencourt nas emocionantes “Lullaby for Lucifer” e “Silent Call”, que foi acompanhado fielmente pela plateia.
Diferentemente do que acontece com a chegada de novos membros na maioria das bandas, Bruno Valverde nunca foi uma incógnita e nunca teve a sua capacidade como músico questionada pelos fãs. O baterista, que substitui à altura grandes nomes que já passaram pelo seu posto, teve o seu momento solo em seguida. Já na reta final do show, sucessos da era Edu Falaschi foram executados. “Rebirth”, “Angels and Demons” e “Nova Era” foram as últimas do Angra a serem tocadas, mas não as últimas do show. “You Really Got Me”, para a surpresa dos presentes, foi o encerramento do espetáculo, contando com a presença de todos os músicos que estiveram no palco durante a noite, além do convidado especial Edu Ardanuy (ex-Dr. Sin), encerrando a festa com uma bela de uma patifaria, no bom sentido.
Fechando com mais de 2h30 de duração, o Angra se despediu da plateia paulistana. Uma pena que Kiko Loureiro estava se apresentando no mesmo dia com o Megadeth em Fortaleza, pois a presença do guitarrista, que se manifestou no dia seguinte parabenizando o Angra pelo grande show, seria um belo adicional e deixaria o palco com quatro dos cinco integrantes que gravaram o disco, faltando apenas André Matos. Uma noite marcante, com um grande espetáculo para um dos maiores álbuns da história do heavy metal nacional e até mesmo mundial.