Kula Shaker – K 2.0 (Strange Folk Records)
Nota 9,5
Atualmente é difícil escutar um álbum de uma vez só. A grande culpada por isso, certamente, é a internet, que mudou a maneira de se consumir música no mundo. Mas não é só isso. A verdade é que a falta de tempo e disposição de parar por quarenta minutos e prestar atenção apenas no que se está ouvindo são cada vez mais raros. É necessário empenho e dedicação para produzir algo que desperte o interesse do ouvinte a esse ponto. Mas com este disco foi diferente.
Desde 2010 sem lançar nada inédito, o Kula Shaker acaba de presentear os fãs com o ótimo “K 2.0”, quinto trabalho da banda inglesa que, entre idas e vindas, já completou duas décadas de estrada. Não é nenhuma surpresa o fato de que o disco esteja a milhas de distância da maioria do que vem sendo produzido no rock nos últimos anos, mas, ainda assim, a descoberta de que eles não perderam o jeito desde “Pilgrims Progress”, seu álbum mais recente até agora, é gratificante.
Rotulado por muitos como integrante da geração britppp de meados da década de 1990, o grupo é contemporâneo de Blur, Oasis e companhia, mas sua música nunca se encaixou completamente naquele movimento, assim como seus integrantes nunca demonstraram intenção de se integrar a coisa alguma.
Com o novo álbum, o vocalista Crispian Mills e seus amigos parecem querer recuperar o mesmo clima da estreia, em 1996. Não é à toa o título “K 2.0”, fazendo uma clara referência ao primeiro disco, “K”. A mistura envolvente e deliciosa do psicodelismo dos anos 60 e do misticismo e espiritualidade trazidos da cultura indiana está de volta, e na dose certa.
A primeira das 11 faixas, também escolhida como carro-chefe, “Infinite Sun”, começa com o som de cítara e segue ritmada com palmas. É contagiante, sofisticada e, ao mesmo tempo, grudenta como uma boa canção pop. A seguir, “Holy Flane” trilha o mesmo caminho, trazendo um pouco mais de reflexão ao som puramente dançante.
O álbum todo é assim, ensolarado, resgatando – principalmente para o ouvinte cansado de mesmice – a alegria e originalidade que parecem ter abandonado o rock n’ roll nos últimos tempos. O flerte com sons diferentes, tirados de instrumentos pouco conhecidos pela música pop, ainda está lá, marcando mais um ponto a favor deles.
A faixa “Let Love B (With U)”, sem dúvida, nos remete ao rock da década de 1960, uma das influências presentes em todos os cinco discos da banda. “Death Of Democracy” apresenta um discurso mais politizado, mas sem perder o lirismo e a poesia, características fortes em suas letras. Há delicadezas em faixas como a linda “Here Come My Demons”, uma das canções mais bonitas do Kula Shaker.
A conexão com a espiritualidade e os ensinamentos aprendidos por Crispian em sua passagem pela Índia, em 1993, aparecem em “Hari Bol (The Sweetest Thing)”, uma quase vinheta de apenas dois minutos, assim como em “Montain Liffter”, que encerra muito bem o álbum.
Se há algum “defeito” em “K 2.0”? Bom, é complicado admitir a existência de um trabalho perfeito – seja na música ou fora dela – mas aqui, não há nada que valha a pena comentar ou que venha ofuscar o brilho do restante.