Nevermen – Nevermen (Lex Records/ Ipecac Recordings)

Nota 9

nevermen-nevermen-resenha“Nevermen é um trio, sem líder, formado por Tunde Adebimpe (TV on the Radio), Adam ‘Doseone’ Drucker (Anticon/cLOUDDEAD) e Mike Patton (Faith No More, Mr Bungle, Fântomas)”. É esse o início da descrição do grupo em seu site oficial. O Nevermen é acima de tudo uma reunião de parceiros e amantes da música experimental. O álbum homônimo, lançado no último dia 29, é o resultado de trabalhos que começaram em 2008.

São 10 faixas feitas de uma mistura nada óbvia de soul, funk, pop e rock que não conversam entre si, logo é impossível saber o que te espera no minuto seguinte. Dentro das próprias canções, as variações são gigantescas e realmente não existe protagonista, é altamente perceptível a troca constante do posto de voz principal e backing vocals. Para viver essa experiência eu recomendo um bom fone de ouvido e uma bebida gelada. São 38 minutos dedicados ao biscoito fino.

Começando com ‘Non Babylon’, uma das minhas preferidas (e que não fez parte das três “músicas de trabalho” que foram liberadas antecipadamente), onde numa batida tensa o trio faz uma troca muito interessante com seus estilos distintos, e o obscuro se funde à algo parecido com sinos. Quando Patton chega ao centro da canção, notamos um estilo que lembra o usado no “Odd Fellows”, último álbum do Tomahawk, de 2013. Cru, forte e grave.

“Dark Ear” se entrega no título. Não é uma música difícil, mas também fica longe de ser comercial. Bem longe, aliás, como todo CD. Em algum momento chega a ser dançante e traz muita coisa de hip hop. Toda a influência de Doseone fica clara aqui. Sua voz sempre aguda rima em ritmo acelerado, assim como em “Shellshot”. Essa última que mantém um vibrato grave ao fundo e parece derreter seu cérebro a cada segundo.

“Wrong Animal Right Trap” tem Tunde em destaque. Sua voz é macia e sempre calma, mesmo nos momentos de agitação. “Though towns” foi a primeira faixa a ser lançada, lá no finalzinho de 2015, e apesar do Patton sempre dizer que suas letras existem apenas para compor a melodia, essa disseca bem o egocentrismo das guerras dos tempos modernos. Em entrevista recente, ele também contou que o processo de composição foi coletivo e rolou entre encontros e troca de e-mails, já que nos últimos dois anos o cantor esteve dedicado ao novo disco do Faith No More, um do Kaada/Patton, single do Tomahawk, tour com Zorn, shows do Fântomas e Mondo Cane no Chile. Pausa para respiração!

“Mr. Mistake” veio na sequência e caiu no soundcloud sem muito alarde. Ela soa leve, e é sem dúvida a mais alegre das faixas. O Boards of Canada fez um remix dela que ficou bem massa, vale conferir pra notar as mudanças. “Frame II to the Wreckoning” no primeiro momento te faz atravessar as florestas úmidas do longa “The Place Beyond the Pines”, à medida que cresce, ganha um refrão equilibrado, coisa rara por aqui. “At Your Service” é a que mais se aproxima do rap, algo entre Pepping Tom (projeto de 2006 de Patton) e “Seeds” (último e classudo álbum do TOTR).  “Hate On” soa quase mística e apresenta tambores e vocais em tons de cânticos.
Fecho os trabalhos com “Treat em Right” onde as vozes fazem as vezes dos instrumentos, tudo muito orgânico.

Nevermen não é para qualquer ouvido, mas se escutado com atenção fica muito claro o que acontece quando pessoas realmente amam o que fazem, e não é só palavra de jornalista/fã. Na semana passada, a redação americana da Rolling Stone deu nota 4,5 para o álbum numa escala de 5. Eles descreveram o grupo avant-garde como “artistas que levam suas capacidades vocais ao limite num jeito único”. “Nevermen” já está disponível nas plataformas virtuais, iTunes e CD, além de uma bela edição em vinil púrpura assinada pela LEX Records e Ipecac Recordings.